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Amazônia: 75% dos europeus não querem acordo com o Mercosul

16 de setembro de 2020

Levantamento mostra que cidadãos da União Europeia querem acordos comerciais alinhados ao combate às mudanças climáticas.

Cinthia Leone, EcoDebate, 14 de setembro de 2020

Três a cada quatro europeus querem que o acordo comercial UE-Mercosul seja interrompido se ele contribuir para o desmatamento da Amazônia e outros danos ambientais, de acordo com uma pesquisa do Instituto YouGov divulgada agora.

A pesquisa, realizada na França, Alemanha, Holanda e Espanha, procurou entender a percepção pública sobre o acordo comercial diante da escalada de violência da atual temporada de incêndios florestais na Amazônia.

Dados da França indicam que 78% dos entrevistados vêem a necessidade de parar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul com base no risco de aumento do desmatamento na Amazônia e a perda de vida selvagem. O mesmo percentual é observado entre os espanhóis (78%), enquanto 74% alemães e 71% dos holandeses têm a mesma posição. Os números para pessoas com mais de 55 anos de idade são particularmente reveladores, com 79% dos entrevistados dentro dessa faixa etária nos quatro países sendo a favor da suspensão do acordo comercial se este contribuir para o desmatamento e danos ambientais na Amazônia.

Em média, 70% do público dos países pesquisados também quer que a UE só concorde com acordos comerciais que estejam de acordo com seus compromissos de enfrentar a mudança climática. O percentual é mais alto na Espanha (82%), seguida de França, Holanda e Alemanha (79%, 75% e 72%, respectivamente).

Os resultados da pesquisa, liberados na quinta (10/9), vão ao encontro dos números alcançados por uma petição organizada por ONGs, que coletou quase 1,7 milhões de assinaturas desde o começo de agosto em apoio à suspensão do acordo comercial UE-Mercosul enquanto a Amazônia estiver em chamas.

“Este acordo nos faz retroceder”, avalia Martin Konecny, coordenador da Rede Seattle a Bruxelas, uma das organizações que promoveram a petição. “O acordo UE-Mercosul vai exacerbar o desmatamento e a crise climática através da expansão das exportações de automóveis e da expansão das monoculturas de ração e terras de pastagem. Agora é o momento de parar este acordo do passado e iniciar uma cooperação que coloque as pessoas e o planeta em primeiro lugar”.

O acordo da UE com o Mercosul deverá ser apresentado ao Conselho Europeu para discussão ainda este ano. Recentemente, a Alemanha se juntou aos Estados-Membros da UE que já expressaram dúvidas sobre a implementação do acordo comercial com o Mercosul. Após declarações da chanceler Angela Merkel durante uma reunião com jovens ativistas do clima, incluindo a Sra. Greta Thunberg, que fez manchetes, a ministra alemã da Agricultura Julia Klöckner acrescentou que o “acordo comercial não será ratificado a curto prazo” e que a grande maioria dos ministros da agricultura da UE é “muito, muito céptica” em relação ao tratado.