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Asiáticos demitidos nas grandes marcas por se sindicalizarem

Primark, Zara, Mango e H&M, entre outras grandes marcas, recorrem às fábricas das zonas mais pobres da Ásia.

10 de agosto de 2020

Os patrões aproveitaram a pandemia para atacar os direitos dos trabalhadores. As marcas são acusadas de pouco fazer.

Esquerda.net, 7 de Agosto, 2020

Segundo um relatório do grupo de defesa dos direitos humanos Business and Human Rights Resource Centre, a pandemia da covid-19 foi ocasião para os patrões das fábricas de roupa das zonas mais pobres do continente asiático empreenderem uma “ofensiva brutal” contra os trabalhadores.

A ONG acusa as marcas, para as quais estas fábricas trabalham, de não protegerem estes trabalhadores. Primark, Zara, Mango e H&M, que são alguns dos maiores retalhistas de roupa da Europa, têm fechado os olhos aos ataques contra a sindicalização na maior parte dos casos.

Já se sabia que, com o confinamento europeu, a crise se tinha instalado fortemente nestas fábricas com um número ainda não calculado de despedimentos. Em abril, só no Bangladesh, um milhão de trabalhadores foram despedidos ou enviados para casa sem direito a qualquer salário.

O que o BHRCC acrescenta com o seu relatório é que, neste processo, tem havido “um padrão emergente e bastante espalhado das fábricas que parece visar trabalhadores sindicalizados para os despedir”. Cerca de cinco mil destes despedimentos, pelo menos, identificados em nove fábricas de países como Mianmar, Camboja, Bangladesh e Índia, terão sido motivados pela adesão dos trabalhadores a um sindicato. Os lay-offs também atingem “desproporcionalmente” trabalhadores que se tenham sindicalizado.

Um dos casos citados é o de uma empresa indiana que faz roupas para a H&M e que, em julho, despediu 1.200 trabalhadores, supostamente devido à covid-19. Só que os trabalhadores despedidos foram da sua única fábrica onde havia um sindicato ativo. Todas as outras permaneceram abertas.

No Bangladesh, em três fábricas do Windy Group, fornecedor da Zara e da H&M, houve três mil despedimentos que os trabalhadores atribuíram ao facto de estarem sindicalizados. “Num dos casos, os trabalhadores foram despedidos poucas horas depois dos representantes sindicais terem pedido à gerência da fábrica que aumentasse a proteção dos trabalhadores contra a infeção da covid-19”, escreve-se ainda.

Em Mianmar, 107 trabalhadores foram despedidos de uma fábrica da Huabo Times que trabalha para a Zara, a Primark e a norte-americana Bestseller, três dias depois de se terem sindicalizado. Trabalhadores de outras fábricas foram chamados para preencher estes lugares. A Primark garantiu, entretanto, ter alcançado neste caso um acordo que fará com que os trabalhadores sejam reintegrados e compensados.

Thulsi Narayanasamy, dirigente da ONG, considera que “ameaçar o direito a organizar-se coletivamente e a ser parte de sindicato num período tão crítico… impede-os de serem capazes de assegurar o pagamento de salários, de terem segurança no trabalho e de não serem assediados”.

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Várias marcas garantem que agem como mediadores nos conflitos entre administrações das fábricas e sindicatos, mas o relatório sublinha que a maior parte dos casos em que dizem estar envolvidos continuam por resolver. Para além disso, sublinha-se que há uma “diferença gritante” entre as respostas dadas pelas marcas e as suas supostas políticas de responsabilidade social e “as realidades vividas dos trabalhadores nas cadeias de abastecimento”.

A ONG conclui que as abordagens destas marcas segue diferentes estratégias: desde o não envolvimento, ao envolvimento com pouca transparência e prestação de contas, à diferença entre o suposto compromisso com a liberdade de associação e o que se passa verdadeiramente nas fábricas, à aceitação de leis locais que não cumprem os padrões internacionais e a um diálogo pouco transparente com os patrões que acontece ao mesmo que há um envolvimento muito superficial com os trabalhadores.