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Vitória de Boric, Um freio à ameaça pinochetista

A ampla vitória de Gabriel Boric pavimenta o caminho que os chilenos começaram a percorrer com o surto social de 2019

21 de dezembro de 2021

Mercedes López San Miguel, Pagina12, 20 de dezembro de 2021

A ampla vitória de Gabriel Boric pavimenta o caminho que os chilenos começaram a percorrer com o surto social de 2019. Seu projeto de governo propõe avançar junto com o processo constituinte, ao contrário de José Antonio Kast, que propôs manter a Carta Magna de 1980, herdada da ditadura de Augusto Pinochet. 

Com a explosão de outubro há dois anos, milhões de chilenos saíram às ruas para exigir mais direitos sociais, políticos e econômicos. Esta grande mobilização, que colocou o governo de Sebastián Piñera em xeque - e que ele reprimiu selvagemente - teve como corolário um acordo de Paz e uma Nova Constituição, que deu origem a um processo constituinte sem precedentes no país vizinho e que terminará no final de 2022.

Parecia, então, um sério passo atrás que um candidato de extrema-direita tivesse chance de chegar ao Palácio de La Moneda (sede do governo chileno) e podesse aprofundar um modelo de desigualdade tão elogiado pela imprensa hegemônica. Felizmente, isto foi barrado pela participação recorde neste segundo turno, apesar da votação não obrigatória.

Doris González, porta-voz de Boric, disse ao PáginaI12 que o presidente eleito "vai ajudar a impulsionar o processo constituinte, que hoje se desenrola em diferentes regiões do país, com a participação dos cidadãos. É fundamental para o Chile poder ter uma constituição democrática, capaz de expressar a vontade popular".

A mera existência da Convenção Constituinte, presidida por um líder mapuche, com representação igualitária de homens e mulheres, é um impulso para uma liderança favorável às transformações que o Chile precisa. Uma demanda que começou antes da vaga de luta de 2019, com as enormes demonstrações estudantis das quais Boric fazia parte. Entre essas exigências está a mudança no sistema de previdência privada, as AFPs. Doris González diz que "vai ser um processo de transição, não vai pôr um fim imediato às AFPs. A direita chegou ao ponto de dizer que os fundos das pessoas seriam expropriados; havia muita desinformação".

A agenda da frente Apruebo Dignidad, de Boric, também se concentra no acesso ao ensino superior, melhores salários para os trabalhadores, uma reforma fiscal com um imposto sobre os ganhos dos super-ricos. O processo de Assembléia Constituinte representa um espaço para construir um horizonte para o país, com uma perspectiva de longo prazo; é por isso que é protagonista deste capítulo que começa. 

A direita reacionária que tenta avançar na América Latina esperava dar um passo à frente no Chile. A sintonia com o Bolsonaro teria significado uma ameaça para a região. Felizmente, não foi possível.