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Daniel Bensaid: Marx, uma herança sem dono em busca de autores

12 de janeiro de 2022

Este texto de Daniel Bensaid é o capítulo de conclusão de sua obra Marx, manual de instruções, intitulado "Uma herança sem dono em busca de autores" (São Paulo: Boitempo, 2003, p. 165-174).

No tempo de Marx, a caricatura levava ampla vantagem sobre a fotografia na representação de pessoas. Na maioria das vezes, o retrato fotográfico, ainda raro, era um objeto privado, que servia principalmente para colocar um rosto no amigo distante ou na lembrança de uma pessoa próxima desaparecida. Substituindo esmaltes vidrados e camafeus amorosos ou as galerias de quadros dinásticos, ela começava aos poucos a democratizar a imagem[1].

Assim, por ocasião da morte de “Lupus” [Wilhelm Friedrich] Wolff, Marx e Engels mandam reproduzir uma dezena de exemplares de sua melhor fotografia para ser enviados aos veteranos de 1848, na Alemanha e nos Estados Unidos. Foi a maneira que encontraram para celebrar a vida do companheiro fiel e homenageá-lo. Do mesmo modo, Marx, Engels e Kugelmann trocam retratos cuidadosamente escolhidos, não por preocupação com a posteridade (Marx fica bastante reticente com a insistência de seu editor, Maurice La Châtre, em ornar a folha de rosto de O capital com o retrato do autor), mas como testemunho de amizade. Por isso, o cuidado de oferecer uma boa imagem, que, como o asseio e o traje, demonstra respeito por si próprio e pelos outros, não apenas na aparência. O resultado é o aspecto solene, artificial, rígido das fotografias de corpo inteiro ou em close, solitárias ou em grupo, tiradas em cenários com tapeçarias pesadas e mobiliário burguês, cuja imobilidade não se deve apenas às limitações da época.

Logo, certamente não é fortuito que Marx tenha posado para uma última fotografia, em abril de 1882, em Argel, onde aparece com ares de patriarca, pouco antes de raspar sua célebre barba grisalha, e que não tenha guardado nenhuma imagem do homem glabro, rosto vincado pela doença e pelo sofrimento, que provavelmente se tornou em seu último ano.

Apesar da função social da fotografia e da mise-en-scène, a iconografia de Marx em vida mantém certo grau de familiaridade e intimidade, revestido ulteriormente de uma espécie de crosta pela grosseira iconografia e fanática hagiografia stalinistas, que orquestraram a difusão internacional de um novo culto. No universo “politicamente correto” da burocracia vitoriosa, a santa imagem do pai fundador deveria ser ao mesmo tempo tranquilizadora, ameaçadora e imaculada. Por esse motivo, as biografias purificadas de qualquer alusão a um provável filho bastardo não reconhecido, a discrição pudica a respeito dos gracejos machistas de Marx ou o silêncio sobre os deslizes homofóbicos de Engels [2]: apesar de inovadores e audaciosos teórica e politicamente, eram homens de seu tempo e de seus preconceitos, porque a verdade é que mentalidades não mudam no mesmo ritmo que leis e técnicas.

A sacralização burocrática de indivíduos humanamente falíveis produziu a estatuária e as imagens pitorescas de um Marx Júpiter olímpico, autoritário, dominador, portador de novas Tábuas da Lei, imitando o ar severo e a barba emaranhada do Moisés de Michelangelo, cujo olhar de pedra aterrorizou Freud em pessoa. Quantos cartazes e vinhetas, panos de fundo dominando as tribunas de congressos pletóricos, peitos cobertos de condecorações, desfiles comemorativos e berloques kitsch ornaram a sacrossanta procissão dinástica – Marx-Engels-Lenin-Stalin! Esses perfis sobrepostos conferiam uma legitimidade genealógica inspirada no Gênesis bíblico de Adão a Noé: Marx teria gerado Lenin, que teria gerado Stalin, tal como Adão gerou Seth, que gerou Enoch, que gerou Kenan. E assim por diante, sem ruptura nem descontinuidade, até o paraíso reconquistado ou o fim dos tempos.

A destruição dos ícones burocráticos e a derrubada dos ídolos de gesso são uma redenção: uma maneira de libertar Marx dos dogmas que o mantiveram acorrentado durante quase um século.

Sua obra aberta, sem limites, revolve em profundidade o espírito de uma época. Crítica em movimento de um sistema dinâmico, O capital, apesar das múltiplas remodelagens de seu plano inicial, era inacabável. Não porque a vida de seu autor tenha sido demasiadamente curta, mas porque era uma vida humana, e o objeto de sua crítica, em perpétuo movimento, sempre o conduzia mais longe.

Pleiadizado, Marx desfruta agora de um reconhecimento acadêmico que se esforça em contê-lo dentro dos limites temporais de seu século: um extraordinário pensador, com certeza, mas datado e fora de moda, bom para arquivos e museus. Economista amador, filósofo digno de figurar no grande afresco da odisseia do Espírito, historiador qualificado para concursos acadêmicos, pioneiro da sociologia? Um pouco de tudo. Um Marx em migalhas, em suma, inofensivo. Intelectual respeitável, se não tivesse tido a infeliz ideia de se envolver com política. No entanto, é isso que o torna um novo tipo de intelectual, que soube conciliar, nos anos 1860, a redação de O capital e a organização material, até mesmo a colagem de selos, da Primeira Internacional. É por isso, escreve Jacques Derrida, que não há “futuro sem Marx”. Para, contra, com, mas não “sem”. E, quando os neoliberais ligados a Hobbes, Locke, Tocqueville o chamam de velho antiquado do século XIX, o espectro sorri discretamente.

A atualidade de Marx é a do próprio capital. Porque, se ele foi um excepcional pensador de sua época, se pensou com seu tempo, também pensou contra seu tempo e além dele, de maneira intempestiva. Seu corpo a corpo, teórico e prático, com o inimigo irredutível, o poder impessoal do capital, transporta-o até nosso presente. Sua inatualidade de ontem faz sua atualidade de hoje.

A (re)descoberta de um Marx desvencilhado de seu culto e seus fetiches é ainda mais necessária porque uma parte essencial de sua obra (nada menos que os manuscritos parisienses de 1848, A ideologia alemã, Os manuscritos de 1857-1858, as Teorias da mais-valia, os Livros II e III de O capital e uma abundante correspondência) foi publicada a título póstumo. A recepção estende-se por décadas, na cadência de traduções frequentemente tardias e imperfeitas. Desse modo, desconhecida pelo movimento trabalhista francês renascente sob o Segundo Império, a primeira tradução francesa do Manifesto Comunista só foi divulgada em 1872, em O Socialista, jornal de língua francesa publicado... nos Estados Unidos [3]!

Ora, a herança de uma obra, principalmente se for dirigida à ação prática, é irredutível a seu texto. É a história de suas interpretações e recepções, inclusive das infidelidades, que por vezes são a melhor maneira de lhe permanecer fiel. Como também escreve Derrida: “A herança não é um bem, uma riqueza que se recebe e se guarda no banco; a herança é a afirmação ativa, seletiva, que pode ser às vezes reanimada e reafirmada mais por seus herdeiros ilegítimos do que pelos legítimos”[4].

É, de certo modo, uma herança sem proprietários nem manual de instruções.

Uma herança à procura de autores.

Marx sem “ismos”

Vinte anos após a morte de Marx, Georges Sorel já falava, em ensaio de 1908, da “decomposição do marxismo”. Por muito tempo, Marx foi prisioneiro de seus “ismos”, das ortodoxias de partido e de Estado, de ídolos de mármore ou gesso que petrificaram em culto sua crítica profana da modernidade. Um passeio pela galeria de seus espelhos deformantes esclarece as expectativas e projeções de uma época tanto ou até mais do que sua obra propriamente dita. Não se trata de empreender escavações arqueológicas à procura de um Marx original e autêntico, debaixo de cópias incorretas e múltiplas contrafações, mas de trazê-lo ao jogo das interpretações, que fazem viver o pensamento, desvendando pistas ignoradas ou reprimidas.

Paradoxalmente, em vez da morte anunciada, os vinte últimos anos talvez tenham sido os de seu renascimento. Imagina-se erroneamente os anos 1960 como a idade de ouro do marxismo. Os estudos marxianos provavelmente nunca foram tão numerosos e tão bem informados quanto hoje. Permitem sair do provincialismo francês e descobrir produções teóricas anglo-saxônicas, latino-americanas, asiáticas e africanas. Estabelecem um diálogo promissor entre pesquisadores de inspiração marxista e trabalhos oriundos de outras abordagens teóricas, como a sociologia crítica, a psicanálise, os estudos feministas ou pós-colonialistas

A riqueza e diversidade dessas produções testemunham uma reviravolta na história tumultuada dos marxismos e suas crises. Como salienta Stathis Kouvélakis, o marxismo é constitutivamente um “pensamento da crise”. Sua difusão, desde o fim do século XIX, inaugura a luta de tendências que, em consonância com os desafios da época, não parou de cruzar o campo da teoria. De imediato, isso significa uma difração e uma passagem da herança para o plural. Novamente, volta-se a falar de “decomposição do marxismo”.

A mais recente “crise do marxismo”, nos anos 1980, foi triunfalmente festejada pelos ideólogos liberais. Mais uma vez, o programa de pesquisa extraído da obra fundadora de Marx viu-se confrontado com as interrogações de um período de expansão e com as transformações do próprio sistema capitalista. As práticas e as formas do movimento social foram submetidas à prova da metamorfose das relações sociais, da divisão do trabalho e da organização da produção. A esses parâmetros recorrentes, o fim da sequência histórica designada como “breve século XX” acrescenta o desmoronamento de sociedades apresentadas, há mais de meio século, como a encarnação temporal do espectro comunista.

Entretanto, desde meados dos anos 1990, a euforia neoliberal está com as asas cortadas. A realização em Paris de um Primeiro Congresso Marx Internacional, no outono de 1995, coincidiu de modo significativo com o grande movimento grevista em defesa da previdência social e do serviço público. Inscreveu-se no renascimento da pesquisa marxista, especialmente criativa nos países anglo-saxões, anunciada na França pela publicação, em 1993, dos Espectros de Marx, de Jacques Derrida ou pela intenção declarada de Gilles Deleuze de consagrar um livro ao “grande Karl”. Paralelamente, a publicação de A miséria do mundo, sob direção de Pierre Bourdieu, deu novo alento à sociologia crítica. Sob os escombros do século XX, refloresceram os “mil marxismos” de que fala o filósofo André Tosel. Sem ficar escarlate, a brisa ganhou alguns matizes.

O florescimento desses “mil marxismos” aparece como um momento de liberação, em que o pensamento se evade de seus grilhões doutrinários. Significa a possibilidade de recomeçar, após as experiências traumáticas de um século trágico, mas sem fazer do passado uma tábula rasa. Plurais e atuais, esses marxismos comprovam uma viva curiosidade. Porém, sua expansão interroga se, apesar das diferenças e fragmentações disciplinares, podem constituir um programa de pesquisas que compartilhe o mesmo nome. Em outras palavras, pode-se ainda falar de marxismo no singular ou é melhor se contentar, conforme a fórmula do filósofo catalão Fernández Buey, com um Marx sem “ismos” ou um marxismo desconstruído? “Qual é o consenso mínimo”, pergunta André Tosel, “para que se possa chamar uma interpretação de legitimamente marxista?” A pluralidade dos “mil marxismos”, presentes e futuros, coloca a “questão do acordo teórico mínimo em um campo de desacordos legítimos”, para que essa generosa multiplicação não conduza a um esmigalhamento do núcleo teórico e à sua dissolução no caldo de cultura pós-moderno.

O longo jejum teórico do período stalinista aguçou apetites legítimos de descoberta e invenção. As amarras do marxismo de Estado e as excomunhões inquisitoriais também alimentaram uma aspiração legítima à liberdade de pensamento, de que foram precursores os “grandes hereges” do período precedente (Ernst Bloch, o Lukács tardio, Jean-Paul Sartre, Louis Althusser, Henri Lefebvre e Ernest Mandel). O risco agora parece inverso: que mil marxismos coexistam polida e consensualmente em uma paisagem pacificada. Esse perigo de ecletismo caminha junto com a reabilitação institucional de um Marx conivente com as civilidades de uma marxologia acadêmica sem alcance subversivo. Em Espectros de Marx, Derrida alertou contra essa tentação de “jogar Marx contra o marxismo, a fim de neutralizar e ensurdecer o imperativo político na exegese tranquila de uma obra catalogada”.

O fundamento dessa ameaça reside na discordância entre o ritmo do renascimento intelectual e a lentidão da remobilização social, na cisão perpetuada entre teoria e prática, que há muito tempo caracteriza o marxismo ocidental[5]. Consequentemente, ao reivindicar sua unidade, o marxismo se submete a um duplo critério de julgamento. Se não foi seriamente refutado no plano teórico, foi incontestavelmente desgastado por graves derrotas políticas do movimento trabalhador e das políticas de emancipação do século passado. Seu programa de pesquisas continua sólido. Mas só haverá futuro se, em vez de se refugiar na clausura universitária, puder estabelecer uma estreita ligação com a prática renovada dos movimentos sociais e com a resistência à globalização imperialista.

Aí efetivamente se exprime, com grande impacto, a atualidade de Marx: sua crítica da privatização do mundo, do fetichismo da mercadoria como espetáculo, da fuga mortífera na aceleração da corrida pelo lucro, da conquista insaciável de espaços submetidos à lei impessoal do mercado. A obra teórica e militante de Marx nasceu na época da globalização vitoriana. O progresso dos transportes foi, à época, o equivalente da internet: o crédito e a especulação tiveram um desenvolvimento impetuoso; foram celebradas as bodas bárbaras do mercado e da tecnologia; surgiu uma “indústria do massacre”... Mas, dessa grande transformação, nasceu também o movimento trabalhador da Primeira Internacional. A “crítica da economia política” é o deciframento indispensável dos hieróglifos da modernidade e o ato inaugural de um programa de pesquisas sempre fecundo.

A crise agora exposta da globalização capitalista e a derrocada de seu discurso apologético constituem o fundamento da renascença dos marxismos [6]. Esse florescimento responde frequentemente às exigências de uma pesquisa livre e rigorosa, mesmo que se acautele contra as armadilhas da exegese acadêmica. Mostra a que ponto os espectros de Marx rondam nosso presente e como seria errôneo contrapor uma idade de ouro imaginária nos anos 1960 à esterilidade dos marxistas contemporâneos. O trabalho molecular da teoria é provavelmente menos visível do que antes. Não traz aos mestres pensadores de hoje a mesma notoriedade dos antigos. É certamente mais denso, mais coletivo, mais livre e mais secular. Se os anos 1980 foram razoavelmente desérticos, o novo século promete ser bem mais do que um oásis.

Fernand Braudel disse que, para acabar com o marxismo, seria necessário um incrível policiamento do vocabulário. Queiramos ou não, o pensamento de Marx agora pertence à prosa da nossa era – por mais que desagrade àqueles que, como o célebre burguês, fazem prosa sem saber[a]. Ser fiel a essa mensagem crítica é sustentar que nosso mundo da concorrência e da guerra de todos contra todos não pode ser reformado somente com alguns retoques, que é necessário subvertê-lo, e com mais urgência do que nunca. Para compreendê-lo a fim de mudá-lo, em vez de simplesmente comentá-lo ou denunciá-lo, o pensamento de Marx e o “trovão” de O capital, pouco audível em sua época, são não um ponto de chegada, mas um ponto de partida e de passagem obrigatório à espera de ser transposto.

Bibliografia selecionada

BENSUSSAN, Gérard; LABICA, Georges. Dictionnaire critique du marxisme. Paris, PUF, 1999.

BIDET, Jacques; KOUVÉLAKIS, Stathis (orgs.). Dictionnaire Marx contemporain. Paris, PUF, 2001.

CALLINICOS, Alex. The Resources of Critique. Cambridge/Malden, Polity, 2006.

DERRIDA, Jacques. Marx and Sons. Paris, PUF/Galilée, 2002.

______. Spectres de Marx: l’état de la dette, le travail du deuil et la nouvelle Internationale. Paris, Galilée, 1993 [ed. bras.: Espectros de Marx: o estado da divida, o trabalho do luto e a nova Internacional. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1994].

KOLAKOWSKI, Leszek. Histoire du marxisme. Paris, Fayard, 1987.

KOUVÉLAKIS, Stathis (org.). Y-a-t-il une vie après le capitalisme? Paris, Le Temps des Cerises, 2008.

MARX, hors limites: une pensée devenue monde. Sarkozy et le mythe méritocratique. Contretemps, n. 20, set. 2007. Disponível em: <www.contretemps.eu/sites/default/files/Contretemps%2020.pdf>. Acesso em 19 ago. 2013.

SOREL, Georges. La décomposition du marxisme: et autres essais. Paris, PUF, 1982.

TOSEL, André. Les marxismes du XXe siècle. Paris, Syllepse, 2009.

Notas

[1] É exatamente em 1862 que os litígios sobre os direitos de reprodução provocam o reconhecimento da fotografia como arte, para proteger os direitos do autor.

[2] Ver principalmente a carta de Engels de 22 de junho de 1869: “Os pederastas começam a se contar e pensam que formam um poder dentro do Estado. Só falta a organização, mas parece que ela já existe secretamente. E, como eles têm homens importantes em todos os velhos partidos, sua vitória é inevitável. Guerre aux cons, paix aux trous-du-cul [Guerra aos imbecis, paz aos bundões], diz-se agora [...]. Para os que tomam a dianteira, como nós, com nossa atração ingênua pelas mulheres, as coisas não correrão bem”.

[3] Ver Philippe Videlier, La proclamation du Nouveau Monde, seguida do Manifeste du Parti Communiste (Vénissieux, Paroles d’Aube, 1995).

[4] Jacques Derrida, Marx en jeu (Paris, Descartes & Cie., 1997).

[5] Ver Perry Anderson, Considerações sobre o marxismo ocidental/Nas trilhas do materialismo histórico (São Paulo, Boitempo, 2004).

[6] Dão testemunho os trabalhos de Robert Brenner e Mike Davis nos Estados Unidos, uma intensa atividade editorial na Ásia e na América Latina, uma rica produção na própria França, com pesquisas militantes sobre a lógica da globalização. Sob o impulso de David Harvey, a exploração de um “materialismo histórico-geográfico” retoma as pistas abertas por Henri Lefebvre sobre a produção do espaço. Estudos feministas alimentam a reativação da reflexão sobre relação de classes sociais, gênero e identidade comunitária. Os trabalhos de John Bellamy Foster, Mike Davis, Paul Burkett conferem fundamento teórico ao ecossocialismo. Estudos culturais, ilustrados principalmente pelos trabalhos de Fredric Jameson nos Estados Unidos e Terry Eagleton na Grã-Bretanha, abrem novas perspectivas para a crítica das representações, ideologias e formas estéticas. A crítica da filosofia política recupera o fôlego com os estudos de Domenico Losurdo e Ellen Wood sobre o liberalismo e o colonialismo, com a redescoberta de grandes personagens como György Lukács e Walter Benjamin; com a investigação de uma historiografia crítica sobre a Revolução Francesa; com as leituras renovadas do corpus marxista de jovens filósofos; com as interrogações de juristas práticos e universitários sobre as metamorfoses e incertezas do direito; com as controvérsias, inspiradas principalmente pela ecologia social, sobre o papel das ciências e das técnicas e sobre seu controle democrático; com uma interpretação original da psicanálise lacaniana; com a confrontação da herança marxista com obras como as de Hannah Arendt, Habermas e Bourdieu.