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França: "O partido de Macron foi derrotado na primeira volta"

12 de junho de 2022

Primeiros resultados das legislativas colocam a esquerda com vantagem sobre o partido de Macron em número de votos. Jean-Luc Mélenchon apelou ao eleitorado para se mobilizar na segunda volta do próximo domingo. Maioria presidencial não dará orientação nacional de voto nos duelos entre a esquerda e a extrema-direita.

Esquerda.net, 12 de junho de 2022

Segundo os primeiros resultados da primeira volta das legislativas francesas, a união das esquerdas (NUPES) lidera a contagem com 25,60% dos votos, à frente da formação política do recém-eleito presidente Emmanuel Macron, o Ensemble, com 25,20% dos votos. A União Nacional de Marine Le Pen recolheu 19,10%, os partidos da direita (Republicanos, UDI e outros) 13,6%, a Reconquista de Eric Zemmour 4,10% e a soma dos partidos de esquerda que decidiram ficar fora da NUPES 3,70%. A abstenção pode ter atingido um novo recorde, com as projeções a indicarem 52,3%.

Na primeira reação às projeções, Jean-Luc Mélenchon afirmou que a NUPES estará presente na segunda volta em mais de 500 dos 577 círculos eleitorais no próximo domingo.

"A verdade é que o partido presidencial, ao fim da primeira volta, é vencido e derrotado. Pela primeira vez na V República um presidente reeleito não consegue reunir uma maioria na eleição legislativa seguinte. Apelo ao nosso povo, face a este resultado e à oportunidade extraordinária que ele apresenta para as nossas vidas e para o destino da pátria comum, apelo ao nosso povo para que compareça no próximo domingo [às urnas]", afirmou o líder da frança Insubmissa que quer ocupar o cargo de primeiro-ministro no caso de a esquerda alcançar a maioria do Parlamento.

Mélenchon sublinhou alguns pontos chave do seu programa para fazer recuar os planos de Macron, como os da subida da idade da reforma, o trabalho forçado dos beneficiários de prestações sociais ou "a parte escondida do seu programa" que é a de tirar 80 bilhões do Orçamento para cumprir a regra do défice de 3%, um montante equivalente "a todo o orçamento do Ministério do Interior e do Ministério da Educação".

"Ao lançar este apelo, 'compareçam e decidam por vós', tenho a certeza de ser ouvido por milhões de pessoas que talvez até agora nunca sequer imaginaram que na segunda volta teriam de tomar uma decisão como a que lhes apresenta em mais de 500 círculos", apontou ainda.

Nos primeiros comentários televisivos por parte de dirigentes da NUPES, houve uma proposta comum: a da realização de um debate televisivo entre Mélenchon e a atual primeira-ministra nomeada por Macron, Elisabeth Borne, nesta semana decisiva da campanha.

Partido de Macron recusa dar orientação de voto nacional contra a extrema-direita

Borne também reagiu aos resultados depois de saber que passará à segunda volta num círculo da Normandia, à frente do candidato da NUPES, apelando "às forças republicanas que se juntem em torno dos nossos candidatos". "Face aos extremos, apenas nós trazemos um programa de coerência, clareza e responsabilidade", prosseguiu a primeira-ministra, sublinhando que "face aos extremos, não cedemos, nem a um lado nem ao outro".

A recusa da maioria presidencial em dar uma orientação de voto nacional para derrotar a extrema-direita nos círculos onde estará ausente na segunda volta indignou políticos e comantadores, que lembraram o apelo de Macron no fim da primeira volta das presidenciais, pedindo semelhante orientação de voto aos candidatos da esquerda. Mas já houve membros do Governo a apelar ao voto nos candidatos da NUPEs contra a União Nacional, como Clément Beaune, que tem a pasta dos Assuntos Europeus. Quanto à ministra da transição energética, Agnès Pannier-Runacher, afirmou que a sua posição pessoa será a de seguir o princípio de "proteger a frente republicana". Quanto ao partido de Macron, diz que analisará essa orientação de voto "caso a caso".

Para o ex-candidato presidencial ecologista Yannick Jadot, trata-se uma posição "absolutamente escandalosa". Nas redes sociais, recordou que "os ecologistas se mobilizaram em massa para derrotar Le Pen nas presidenciais" há poucas semanas quando apelaram ao voto em Macron na segunda volta.

À direita, o presidente dos Republicanos afirmou que o partido deverá dar a indicação de "nenhum voto para o extremos" nos casos de duelos NUPES-União Nacional à segunda volta. O presidente interino da União Nacional teve de olhar para um mapa eleitoral preenchido por duelos entre a esquerda e o bloco presidencial na segunda volta. Jordan Bardella diz que votaria em branco nessa configuração, e acredita que a maioria do eleitorado do partido de extrema-direita fará o mesmo, uma posição reafirmada mais tarde por Marine Le Pen. Também Eric Zemmour, que não conseguiu passar à segunda volta, assumiu a derrota e a viragem do eleitorado para a esquerda, afirmando que "Mélenchon e Macron são dois lados da mesma moeda" e prevendo que a sua Reconquista será o único partido de direita no futuro.