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Frei Betto: Quem manda no Brasil quer a pandemia

Quanto maior o poder do novo coronavírus em contaminar a população, mais se evitarão manifestações de rua. Por isso, diz Frei Betto, seu maior aliado sugere placebos e evita qualquer iniciativa para cercear o poder letal da pandemia

3 de março de 2021

Frei Betto, IHU-Unisinos, 3 de março de 2021
 

Desde fevereiro de 2020, você governa o Brasil. Decide quem pode ir às ruas consumir, quais comércios devem abrir ou fechar, o ritmo da produção industrial, a política das exportações do agronegócio.

Você determina como e quando escolas e universidades devem voltar às aulas presenciais ou prolongar as virtuais. Calibra o sobe e desce da Bolsa de Valores e, sobretudo, comanda todo o sistema público e privado de saúde em nosso país.

Você fez o PIB decrescer em 2020 e obrigou o governo federal a gastar bilhões de reais na importação de vacinas e insumos. Demitiu dois ministros da Saúde, ambos médicos, e nomeou um general de plantão que não conhecia o SUS e nada entende de medicina e logística.

Você é o nosso principal governante! Como adota uma política deliberadamente necrófila, conta com todo o apoio do capitão Bolsonaro. Este sabe que a Constituição e a atual conjuntura o impedem de fazer o que tanto gostaria: fuzilar 30 mil ou 300 mil opositores. O único recurso dele, no momento, é promover isso a conta-gotas ao liberar a importação e o comércio de armas e munições, e relaxar o controle de posse e porte. Você, no entanto, a cada dia suprime mais de mil vidas e já infectou mais de 10 milhões de brasileiros com a sua deletéria presença.

Há, porém, uma contradição entre você e seu principal aliado. Todos nós que repelimos os dois gostaríamos de ver o Brasil livre de suas presenças. No seu caso, o único recurso é ficar em casa, decretar o lockdown, suspender todas as atividades por certo período. No caso de seu aliado, a solução é exatamente o inverso: ocupar as ruas e repetir os protestos massivos de junho de 2013. Ele insiste em criticar a vacinação em massa, o uso de máscara, o veto às aglomerações e as medidas restritivas.

Ele dá todo apoio ao seu poder de desmobilizar as pessoas, induzir milhões à depressão, separar famílias, estressar médicos e enfermeiros, produzir mais vítimas que leitos de hospitais e, assim, prosseguir na mortandade precedida pela terrível tortura do isolamento e da asfixia.