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Michel Husson (1949-2021): o economista e o homem

O economista político marxista e ativista francês, morto em 19/7, deixa como legado uma obra contundente de crítica ao capitalismo neoliberal, o bom humor e o compromisso com os movimentos pela transformação radical da sociedade. 

20 de julho de 2021

Jean-Marie Harribey, ESSF, 19 de julho de 2021

Michel Husson nos deixou. A notícia nos deixa sem palavras. Devemos primeiro prestar homenagem ao economista excepcional que ele era, ou ao homem com a sua bondade e senso dehumor devastador, dotado de uma capacidade invulgar de dissecar os estudos mais técnicos? 

Michel Husson pertence a uma geração de economistas-estatísticos, formados no rigor científico e possuidores de uma cultura de economia política crítica baseada na melhor fonte: Marx. Foi um dos poucos analistas que dedicou o seu trabalho àanálise da evolução do capitalismo contemporâneo financeiramente globalizado, utilizando os conceitos de sobreacumulação de capital e a taxa de lucro, cuja evolução estabelece o ritmo para as transformações do capitalismo. As consequências dessas transformações no trabalho, distribuição de rendimentos e proteção social têm estado no centro das suas preocupações durante todo o período neoliberal.  

Michel Husson foi, entre outros, um dos mais fervorosos defensores da redução do tempo de trabalho. Seu recente trabalho ainda mostra o desafio que essa questão representava, mesmo em plena crise de saúde. E não é pequeno, entre seus méritos, ter-se libertado da cultura de produtivismo, promovida há demasiado tempo por movimentos progressistas, para ter em conta acrise ecológica e para ligar a sua resolução à da crise social. 

A extensão do trabalho de Michel Husson pode ser vista no seu website "hussonnet.fr", que é uma mina documental sem paralelo, constituída por textos curtos e pedagógicos, bem como análises profundas graças ao seu domínio das ferramentaseconométricas, que lhe permitem mostrar a fraqueza de muitos trabalhos acadêmicos que afirmam ser ortodoxos, Foi também um matemático e estatístico capaz de demonstrar a pretensão científica de modelos neoclássicos. 

Mas esta maestria que ele empregou profissionalmente, nomeadamente no Institut de Recherches Économiques et Sociales (IRES) nos últimos tempos de sua carreira, a pôs à disposição de combates, participando o mais ativamente possível em associações empenhadas na batalha social: a Attac, a Fundação Copernicus, a Economistes Atterrés, para não mencionar os seus compromissos sindicais e políticos. 

As suas contribuições para obras colectivas sobre a crise do capitalismo, pensões e dívida pública são incontáveis, nomeadamente a sua participação na Auditoria da Dívida Pública grega em 2015 em Atenas.  

Michel Husson também será lembrado pela sua contribuição para a desmistificação da chamada epistemologia da economia neoclássica, porque, para ele, o importante é ser capaz de compreender e compreender o que é importante…