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Mundial do Qatar: mais de 6.500 migrantes mortos na construção

24 de fevereiro de 2021

Uma investigação do jornal Guardian faz o balanço das mortes de trabalhadores migrantes no Qatar desde o início da construção das infraestruturas para o Mundial de Futebol de 2022.

Esquerda.net, 24 de fevereiro de 2021

Há dez anos, o Qatar festejou a escolha para país anfitrião do Mundial de 2022 e lançou uma série de megaprojetos de construção. Além dos sete estádios de futebol, conta-se um novo aeroporto, muitas infraestruturas rodoviárias, e até uma nova cidade para acolher a final da competição.

Para construir essas obras foram recrutados muitos milhares de migrantes. Segundo uma reportagem do Guardian, ascende já a 6.500 o número de imigrantes mortos neste período, com dados apenas revelados quando aos originários da Índia, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka. Os números não incluem dados de outros países de onde chegam ao Qatar milhares de imigrantes, como as Filipinas ou o Quénia.

Os dados disponíveis desde 2011 não discriminam os óbitos por setor de atividade, mas Nick McGeehan, diretor do grupo FairSquare Projects, que acompanha a questão dos direitos laborais no Qatar, não tem dúvidas de que “uma proporção muito significativa dos trabalhadores migrantes que morreram desde 2011 só estavam no país porque o Qatar ganhou o direito a acolher o Mundial de Futebol”.

May Romanos, investigadora da Amnistia Internacional, contesta a “falta de clareza em torno destas mortes”. Só uma pequena percentagem destes óbitos são declarados como acidentes de trabalho. Entre os migrantes indianos, 80% dos óbitos foram declarados como “mortes naturais”, o mesmo acontecendo a quase metade dos nepaleses, apesar de na sua maioria serem trabalhadores jovens. A percentagem de suicídios nas causas de morte é elevada entre estes trabalhadores - 6% no caso dos nepaleses, 10% nos indianos.

O calor intenso também já foi apontado como um fator presente em muitas mortes de trabalhadores, com a própria Organização Internacional do Trabalho a sublinhar que pelo menos durante quatro meses do ano os trabalhadores ao ar livre estão sujeitos a um stress de calor significativo.

“Apelámos ao Qatar para alterar a sua lei das autópsias, de forma a exigir investigação forense a todas as mortes súbitas ou inexplicadas, e a aprovar legislação que exija referência à causa clínica da morte em todas as certidões de óbito”, diz por seu lado Hiba Zayadin, investigadora da Human Rights Watch, também citada pelo diário britânico.


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Por seu lado, um porta-voz do governo do Qatar procura desdramatizar o fenómeno da morte de imigrantes, afirmando ao Guardian que “a taxa de mortalidade nestas comunidades está em linha com o tamanho e a demografia da população. Contudo, cada vida perdida é uma tragédia e não se poupam esforços para prevenir cada morte no nosso país”, acrescenta.