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Poluição dos combustíveis fósseis mata 8.7 milhões por ano

20 de fevereiro de 2021

Um quinto das mortes prematuras no mundo são causadas por este tipo de poluição, diz um estudo publicado esta semana. Sem esta poluição, a esperança média de vida da população mundial aumentaria em mais de um ano.
 

Esquerda.net, 10 de fevereiro de 2021

Um estudo publicado esta terça-feira na revista científica Environmental Research conclui que a poluição proveniente dos combustíveis fósseis causa um quinto das mortes prematuras a nível global. São 8,7 milhões de mortes por ano.

Esta investigação que junta a Universidade norte-americana de Harvard com várias congéneres britânicas - a Universidade de Birmingham, a de Leicester e o Colégio Universitário de Londres - é a mais detalhada até este momento e mostra que os impactos para a saúde da queima de carvão, petróleo e gás natural são ainda mais graves do que o estimado anteriormente.

Uma das suas autoras, Eloise Marais, especialista em química atmosférica no University College de Londres, diz, citada pela Reuters(link is external) e pelo Guardian(link is external), que, estavam inicialmente “muito hesitantes” quando obtiveram os dados porque ficaram “estarrecidos” pela grandeza do número a que chegaram. Mas à medida que avançavam foram descobrindo “cada vez mais impactos desta poluição”.


A diferença deste estudo face aos anteriores não é só da ordem da grandeza mas também de capacidade de distinguir o tipo de poluição. Se os anteriores não conseguiam distinguir entre a poluição proveniente da queima de combustíveis fósseis e a de outras partículas como pó ou incêndios, este utiliza um modelo de alta resolução e consegue perceber as diferenças entre poluentes inalados. Por isso, Joel Schwartz, outro dos autores, epidemiologista ambiental na Escola de Saúde Pública de Harvard, tem “esperança que quantificando as consequências para a saúde da combustão de combustíveis fósseis” seja possível “enviar uma mensagem clara aos decisores políticos e acionistas acerca dos benefícios de uma transição para fontes energéticas alternativas”.

O ano de referência deste estudo é 2018. E a distribuição dos efeitos nocivos é desigual pelo mundo: o leste da Ásia, incluindo partes da China, a Índia, a Europa e o nordeste dos EUA são as zonas mais afetadas.

Os investigadores dão como certa a ligação deste tipo de poluição com o surgimento de doenças cardíacas, respiratórias e até a perda de visão. De tal modo que sem estas emissões poluentes a esperança média de vida da população mundial aumentaria mais do que um ano.

Em todo o mundo, uma em cada cinco mortes prematuras se deve à poluição

O impacto na saúde gerado pela queima de combustíveis fósseis é cada vez mais evidente. Uma nova pesquisa científica publicada, nesta terça-feira pela revista Environmental Research revela que uma em cada cinco mortes prematuras que acontecem por ano tem a ver com a poluição do ar associada ao diesel, a gasolina e o carvão. No total, anualmente, a poluição provoca 8,6 milhões de mortes em todo o planeta, segundo este novo relatório realizado por especialistas da Universidade Harvard e do University College London.

Alejandro Tena, Público, 09-02-2021. A tradução é do Cepat.

Os dados aumentam notavelmente os números que até agora eram consenso. Tanto é que no último grande relatório científico, realizado em 2015, estimava-se que o número de mortes prematuras associada à poluição gerada pela queima de combustíveis fósseis era de 4,2 milhões. Esta importante revisão não se deve tanto a um aumento da população, mas a uma mudança metodológica que conferiu maior importância ao impacto na saúde gerado pelas partículas PM2,5, associadas pela queima de elementos como o carvão e o diesel. Desta forma, os especialistas não só falam em mortalidade, como também estimam que 18% da população do planeta vive exposta a estas partículas associadas ao desenvolvimento de doenças respiratórias e cardiovasculares.

“Esperamos que ao quantificar as consequências da combustão de combustíveis fósseis para a saúde, possamos enviar uma clara mensagem aos responsáveis políticos e as partes interessadas a respeito do benefício de uma transição para fontes de energia alternativas”, avaliou Joel Schwartz, professor de epidemiologia ambiental da Universidade Harvard, que participou na elaboração do relatório.

Segundo a pesquisa, as regiões do Leste Asiático são as que maiores índices de mortalidade prematura registram, com um total de 1,6 milhão de mortes anuais pela má qualidade do ar. É seguida pelo continente europeu, onde são contabilizadas 1,4 milhão de mortes, Estados Unidos, que têm 355.000 mortes por ano, África, com 194.000 mortes, e América do Sul, com outras 187.000. As zonas do oeste asiático e Oriente Próximo sofrem 95.000 óbitos. A América Central e as ilhas caribenhas contabilizam 94.000 mortes, e o Canadá e a Austrália somam 40.000 mortes anuais.

A pesquisa também revela como as restrições à queima de combustíveis fósseis têm uma incidência positiva na saúde pública. O caso da China talvez seja o mais chamativo, tanto que em 2012 foram contabilizadas, com este mesmo método de análise, 3,9 milhões de mortes e seis anos depois, quando o Governo freou o uso de carvão e apostou em energias renováveis e na mobilidade elétrica, o número de mortes ficou em 2,4 milhões. Desta forma, as políticas dirigidas à promoção de energias limpas fizeram com que o país asiático reduzisse em 38% a mortalidade associada à má qualidade do ar.

7% da mortalidade infantil
Os menores de cinco anos são, segundo os especialistas, “biologicamente e neurologicamente mais suscetíveis aos efeitos adversos gerados pela poluição”. Seus sistemas respiratórios e imunológicos ainda imaturos fazem com que fiquem em uma situação de risco frente aos gases e partículas fósseis. De fato, a principal causa da mortalidade infantil no mundo está relacionada a doenças respiratórias, com 18.997 mortes anuais, das quais 7,2% estão estreitamente relacionadas com a exposição a partículas PM2,5.

A Europa é o continente que mais registra óbitos infantis por causa destas partículas liberadas na atmosfera após a queima de combustíveis: 13,6% do total. É seguida por América do Norte (6,6%) e América do Sul (5,7%). O número de crianças que vivem expostas à má qualidade do ar é ainda mais alarmante, quando se olha para os dados trabalhados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que alerta que 93% das crianças do mundo respiram diariamente níveis de poluição elevados.

Ella Kissi-Debrah – uma criança britânica que faleceu por complicações respiratórias – se tornou a face visível do problema global, após um tribunal do Reino Unido sentenciar, no último mês de dezembro, que os altos níveis de poluição que havia na região onde vivia tinham sido uma causa determinante para sua morte. Trata-se do primeiro caso, em todo o mundo, em que a Justiça relaciona uma morte à má qualidade do ar.