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Santos Cruz e Moro podem rachar as Forças Armadas

Kennedy Alencar e Thaís Oyama comentam a filiação do general Santa Cruz ao Podemos, de Sergio Moro.

26 de novembro de 2021

Kennedy: Santos Cruz e Moro têm potencial para rachar as Forças Armadas

Kennedy Alencar, UOL, 25 de novembro de 2021

Em participação no UOL News, o colunista Kennedy Alencar avaliou que a filiação ao Podemos do ex-ministro da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro (sem partido) general Carlos Alberto dos Santos Cruz tem potencial de conquistar militares que não apoiam o presidente da República. 

Santos Cruz se filiou hoje à mesma sigla do também ex-ministro Sergio Moro. O ex-juiz deve ser lançado como candidato à Presidência da República para as eleições de 2022 pelo partido

"Santos Cruz tem potencial de buscar apoio nas Forças Armadas de pessoas que não estão com Bolsonaro, ou seja, de rachar as Forças Armadas", disse Kennedy. "Ele é um nome que agrada pessoas de alto comando e generais." 

Para o colunista, Moro também pode dividir o apoio entre militares a Jair Bolsonaro. "O Moro tem potencial de rachar as Forças Armadas porque tem esse caráter autoritário que o Bolsonaro tem também. Ele é muito parecido com Bolsonaro", afirmou Kennedy..

"[Karl] Marx dizia que a história se repete primeiro como tragédia, depois como farsa. No Brasil, estamos tendo a tragédia do Bolsonaro; o Moro é uma farsa. O que ele está tentando construir é uma candidatura que replica a estratégia antipolítica de Bolsonaro, em 2018, com o discurso anticorrupção", completou.

Thais Oyama: Santos Cruz na sigla de Moro ameaça arruinar imagem "militar" de Bolsonaro

Thaís Oyama, UOL, 25 de novembro de 2021

O general Carlos Alberto Santos Cruz se filiou hoje ao Podemos. 

A entrada do militar no partido do ex-juiz Sergio Moro, hoje rival político de Jair Bolsonaro, representa para o ex-capitão uma simbologia e uma ameaça.

Santos Cruz é o único general brasileiro vivo que foi à guerra. Em 2013, ele liderou no Congo a primeira missão da história da ONU de caráter ofensivo (com licença para matar). Comandou 22 mil capacetes azuis numa experiência que mudou os parâmetros de ação da organização e resultou num manual batizado com seu nome, o "Santos Cruz Report".

Em 2019, o militar resolveu emprestar suas estrelas ao nascente governo Bolsonaro. Quatro outros generais da reserva fizeram o mesmo: Augusto Heleno, Fernando Azevedo e Silva, Eduardo Villas Bôas e o vice-presidente, Hamilton Mourão. 

À exceção de Heleno, todos os demais ou deixaram o governo ou se distanciaram de Bolsonaro, num processo que refletiu a degradação da relação do presidente com os militares em geral, sobretudo os do Exército.

Agora, a ida de Santos Cruz para o partido de Moro simboliza algo mais que o esfriamento da relação entre Bolsonaro e as Forças Armadas: significa a passagem oficial de um general respeitado e influente para a trincheira oposta à do ex-capitão. E o general entra em campo disposto a abrir fogo.

Em conversa com esta coluna, Santos Cruz, habitualmente discreto, não poupou munição contra Bolsonaro, que, segundo ele, "não possui nenhuma característica militar, como o respeito à hierarquia, disciplina e lealdade"; projetou uma fotografia "grotesca" do Brasil no exterior; "fez tudo para desmoralizar a direita" e causou "um prejuízo incalculável para a imagem das Forças Armadas".

Bolsonaro e seus "super-heróis do WhatsApp", afirmou Santos Cruz, apenas fingem ser patriotas. "Patriotas são os que unem o país, não esse bando de loucos". 

O militar ainda irá decidir se disputará uma vaga na Câmara ou no Senado. É certo, porém, que discursará com gosto nos comícios de Moro. 

Será uma das primeiras vezes que um general falará num palanque o que há muito a categoria diz de Bolsonaro na surdina — e isso inclui aliados tão próximos do presidente quanto o general Heleno.

Em agosto de 2018, num encontro que reuniu o então candidato Jair Bolsonaro e uma dúzia de empresários pesos-pesados de São Paulo na casa do ex-secretário de governo Fabio Wajngarten, o general Heleno foi flagrado por um dos presentes no momento em que, falando ao telefone com um interlocutor desconhecido sobre a performance do ex-capitão junto à plateia, disse dele coisas pouco lisonjeiras, entre as quais a de que era "muito despreparado". A conversa — que Heleno não percebeu estar sendo gravada e filmada por celular— chegou ao presidente, que na época decidiu relevá-la. 

A filiação de Santos Cruz ao Podemos é para Bolsonaro um marco simbólico e mal-vindo. Mas representa para o ex-capitão também uma ameaça: a de se ver despido das credenciais militares que nunca teve, só que agora em público.