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Uma em cada três mulheres no mundo já sofreu alguma violência

25 de março de 2021

É necessário combater as desigualdades e impulsionar a educação, não somente entre as mulheres, também entre os homens. É necessário que a consciência de respeito e igualdade se semeie nas mentes dos homens desde a infância.

IPS Noticias, 10 de março de 2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

A violência de gênero é um fardo generalizado em todas as regiões do mundo. Uma em cada três mulheres já foi violentada, geralmente desde muito jovem - é o que destaca um estudo conjunto da ONU Mulheres e da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esse tipo de violência foi sofrido por 736 milhões de mulheres, seja pelas mãos do companheiro ou de outras pessoas, diminuindo na última década, mas sendo agravada durante a pandemia de covid-19, disse o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Uma em cada quatro jovens entre 15 e 24 anos que tiveram algum relacionamento íntimo já teria sofrido violência ao chegar aos 25.

Diante desse flagelo, “não temos vacinas para detê-lo, só podemos enfrentá-lo se governos, comunidades e indivíduos adotarem medidas para mudar atitudes prejudiciais, melhorar o acesso a oportunidades e serviços para mulheres e meninas e promover relacionamentos saudáveis e de respeito mútuo”, disse Tedros.

Embora os dados sobre atos de violência de gênero sejam parciais, porque muitas vítimas não os denunciam por medo de estigmatização, as agências das Nações Unidas consideram que os ataques físicos ou sexuais perpetrados pelo parceiro são o tipo de violência mais frequente contra as mulheres.

O resultado registrado é de 641 milhões de afetados, em uma população mundial feminina total de 3,840 milhões.

A esses ataques somam-se as agressões sexuais de pessoas que não são cônjuges ou parceiros íntimos, relatadas por 6% das mulheres.

Mulheres em países de renda baixa e média-baixa sofrem violência de gênero desproporcionalmente, de acordo com o estudo.

A OMS estima que 37% das mulheres nos países mais pobres foram submetidas à violência física ou sexual por parte de um parceiro em algum momento de sua vida e, em alguns países, a incidência chega a uma em cada duas mulheres.

A Oceania, a Ásia Meridional e a África Subsaariana são as regiões com maior prevalência dessa carga entre mulheres de 15 a 49 anos, com taxas entre 33 e 51 por cento. Os indicadores mais baixos (16-21 por cento) são da Europa, Ásia Central e Sudeste Asiático e América Latina e Caribe registram 25 por cento.

Todos esses números são derivados do documento “Estimativas globais, regionais e nacionais da prevalência da violência praticada pelo parceiro íntimo contra as mulheres e estimativas globais e regionais da prevalência da violência sexual contra as mulheres”.

Este estudo, o maior sobre o tema feito até hoje, cobre o período de 2000-2018, ou seja, não contempla o impacto da pandemia, que também interrompeu os serviços de apoio às vítimas, destacaram funcionários da ONU.

No relatório “estamos falando da situação anterior à imposição de medidas para fazer enfrentamento à pandemia, como o confinamento domiciliar”, sublinhou a diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka.

“Sabemos que a covid-19 levou a uma pandemia oculta de todos os tipos de violência contra mulheres e meninas, como mostrado pelo aumento de casos registrados”, disse Mlambo-Ngcuka.

A também subsecretária geral da ONU apelou a todos os governos para “enfrentar este problema de forma decisiva”, aumentando a proteção das mulheres e promovendo o seu empoderamento.

Para prevenir a violência de gênero, a OMS e a ONU Mulheres consideram urgente combater as desigualdades econômicas e sociais sistêmicas, ampliar o acesso à educação e promover a criação de empregos seguros e decentes.

Da mesma forma, é necessário mudar os regulamentos e instituições que discriminam com base no gênero e garantir os serviços às vítimas desta violência.

Ambas as entidades exigiram “políticas sólidas que transformem as relações de gênero e vão desde o cuidado infantil à igualdade salarial, fortaleçam os sistemas de saúde e favoreçam para que atitudes e crenças discriminatórias sejam questionadas”.