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1º de Maio em França: "Não há nenhum apaziguamento"

2 de maio de 2023

Segundo as contas do Governo, a mobilização foi sete vezes maior do que a do 1º de Maio do ano passado. Sindicatos apontam participação de 2,3 milhões de pessoas. "Ao contrário do que pede o Governo, a página não foi virada", diz a líder da CGT.

Mais de 300 manifestações assinalaram o Dia do Trabalhador em França, desta vez convocadas pela Intersindical que junta as principais centrais sindicais do país e tem promovido os protestos contra a reforma das pensões. Com a luz verde do Conselho Constitucional a esta proposta do Governo sem aval do Parlamento, Emmanuel Macron acreditou que isso iria desmobilizar o protesto, mas a mobilização desta segunda-feira desmentiu-o.

Segundo os números do Ministério do Interior, saíram à rua 782 mil manifestantes neste 1º de Maio, quando no ano passado o mesmo organismo tinha divulgado 116.500. Já a CGT anunciou a presença de 2,3 milhões de manifestantes em França, dos quais 550 mil em Paris. Este foi o segundo maior 1º de Maio do século XXI francês, ultrapassado apenas pelo de 2002. Há 21 anos a data calhou entre as duas voltas das presidenciais e as manifestações transformaram-se numa gigantesca mobilização contra o fascismo e a presença de Jean Marie Le Pen na segunda volta, onde seria derrotado por Jacques Chirac

Agora, para a recém-eleita líder da CGT, Sophie Binet, a participação foi "um desmentido contundente da estratégia de Emmanuel Macron, porque não há apaziguamento. Ao contrário do que pede o Governo, a página não foi virada". Para a líder sindical, "há um contraste chocante entre o que está a acontecer nas ruas, uma mobilização unitária, uma população solidária, e um Presidente da República que nunca esteve tão solitário".

Além deste protesto, os sindicalistas olham para duas datas do calendário institucional: esta quarta-feira o Conselho Constitucional vai pronunciar-se sobre uma segunda proposta de referendo, depois de ter rejeitado a primeira a 14 de abril; e a 8 de junho o Parlamento pode vir a pronunciar-se pela primeira vez sobre a reforma das pensões, caso vá a votos a proposta do grupo de deputados independentes LIOT para revogar a medida. Entretanto, os sindicatos querem aproveitar a dinâmica das lutas para pressionar o Governo a ceder noutras matérias, ao longo das reuniões solicitadas pela primeira-ministra Elisabeth Borne. E prometem anunciar já esta terça-feira as próximas etapas da mobilização.

Mas é nas ruas que se joga o desenlace desta luta, advertiu o líder da França Insubmissa em Paris. "Não desistam de nada, nunca! A luta continua até à vitória. Enquanto homem de idade que sou, já vi muitos senhorzinhos que se julgavam indispensáveis e que foram derrubados. Não se deixem domesticar, custe o que custar!", apelou Jean-Luc Mélenchon, citado pelo Mediapart, prometendo a recuperação da reforma aos 60 anos.

A violência dos confrontos com a polícia foi outro dos destaques das manifestações em várias cidades. Em Paris, centenas de manifestantes vestidos de negro colocaram-se à frente do cortejo, vandalizando montras de lojas e bancos e lançando foguetes e cocktails molotov contra a polícia, mas também contra o stand do PC francês, ferindo ligeiramente alguns militantes, enquanto o seu líder Fabien Roussel teve de ser retirado do local. Ao longo de toda a tarde, houve cargas policiais violentas, acompanhadas pelo lançamento de gás lacrimogéneo e granadas atordoantes, e mais de cem detenções em Paris e outras 200 no resto do país.