Pedro Borges e Juca Guimarães para Alma Preta.
Integrantes da ala das baianas e da bateria da escola de samba Unidos da Peruche participaram da Marcha da Consciência Negra, na avenida Paulista, região central de São Paulo, neste sábado (20). A marcação forte do surdo ecoou por um dos centros financeiros e cartão-postal da capital paulista para lembrar a importância da luta antirracista.
Essa foi a 18ª marcha da Consciência Negra na cidade de São Paulo e a data de 20 de Novembro é comemorada há 50 anos no país. Porto Alegre (RS) foi a primeira cidade a celebrar o dia Zumbi dos Palmares em contraponto ao 13 de Maio, data da abolição inconclusa do período de 388 anos de escravidão no Brasil.
A concentração da marcha começou por volta do meio-dia e às 15h teve início as manifestações religiosas de matriz africana. O bloco afro Ilú Oba de Mim, que exalta a cultura negra e é formado exclusivamente por mulheres, fez uma performance com exaltação ao orixá Esú.
Durante a caminhada que saiu do MASP (Museu de Arte de São Paulo), manifestantes levaram cartazes lembrando que no Brasil mais de 600 mil pessoas morreram por conta da pandemia da Covid-19 e exigindo a saída do presidente Jair Bolsonaro.
“Ocupar as ruas no dia 20 de novembro é relembrar que a gente ainda precisa lutar diariamente contra a política de morte que mira os corpos negros. É trazer os aliados para pensar conjuntamente políticas e formas de ação de resistência ao racismo”, diz a advogada Sheila Carvalho, que integra a Coalizão Negra por Direitos.
Representantes do movimento “SP é Solo Preto e Indígena”, que luta contra o apagamento da contribuições históricas dos negros e dos povos originários na capital paulista, com a Liberdade, Bela Vista e o Bixiga também participaram do ato que termina no Teatro Municipal para relembrar o local onde foi fundado o MNU (Movimento Negro Unificado), em 1978.
A manifestação reuniu aproximadamente 10 mil pessoas e contou também com a participação de muitas famílias e pessoas brancas apoiadoras os protestos contra o genocídio da população negra. “Os brancos tiveram um papel nesta história e agora eles devem participar da solução dos problemas que atingem as pessoas negras”, pondera Sheila.
A Alma Preta Jornalismo acompanhou a marcha e constatou que o policiamento na região foi reforçado, mas não houve incidentes. O avanço da vacinação contra a Covid-19 em São Paulo, onde toda a população acima de 18 anos já tomou pelo menos a primeira dose, contribuiu para que mais pessoas pudessem participar dos protestos.
“Com essa retomada das atividades presenciais é importante a gente se reunir, se ver um no outro e passar uma mensagem política de união”, afirma a advogada Júlia Drummond. Segundo a jurista, o volume dos atos de 20 de novembro em todo o país demonstra o tamanho da “revolta e das reivindicações pela vida do povo negro”.
Zumbi e o 20 de Novembro
Zumbi dos Palmares foi o líder político do Quilombo dos Palmares, na serra da Barriga, atual estado de Sergipe, que chegou a ter uma população de 20 a 25 mil homens e mulheres livres. Ele foi assassinado em 20 de novembro de 1695, e em 2011 a ex-presidente Dilma Rousseff sancionou uma lei que estabelece a data como o Dia Nacional da Consciência Negra.
“Essa data lembra a morte de Zumbi e a resistência negra que é quilombola, é ribeirinha e, principalmente, periférica”, destaca Lourival Aguiar, articulador da bancada Feminista (PSOL), mandato coletivo da Câmara dos Vereadores de São Paulo.
Ao longo de toda a marcha foram notadas faixas e cartazes de diversas entidades de movimentos sociai e representações de partidos de esquerda como:C onvergência Negra, Ação e Diálogo do PT, RUA, CMP, PCO, Círculo Palmarino, Adunifesp, SlamSP, Terreiro Resiste, SP Solo Preto, Intecab-SP, Conaq, Unegro, UneAfro, Conen, MNU, Afronte, Coalizão Negra por Direitos e Frente Nacional Antirracista.