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Acordo sobre desmatamento é sinal verde para destruição

2 de novembro de 2021

Na bagagem de falsas soluções, o governo brasileiro carrega mais um item para seguir avançando com sua agenda antiambiental

Greenpeace Brasil 2 de novembro de 2021

A Amazônia segue encoberta pela fumaça e marcada pela devastação criminosa e sem controle. Foi o que comprovaram sobrevoos realizados pela Aliança Amazônia em Chamas, formada pelas organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima. A expedição ocorreu entre os dias 13 e 17 de setembro, nos municípios de Porto Velho, Rondônia, e Lábrea, sul do Amazonas.

A COP 26 trouxe uma enxurrada de anúncios sobre a “proteção” das florestas. Entre eles está um novo acordo entre governos, incluindo o Brasil, para conter o desmatamento até 2030. Mais um item na bagagem de falsas soluções que o governo brasileiro trará de volta para casa. O acordo na prática substitui a Declaração de Nova York sobre Florestas de 2014, que estabeleceu a meta para o ano de 2020 (embora o Brasil não o tenha assinado).

Respondendo de Glasgow ao anúncio, onde ocorre a Cúpula do Clima da ONU, a diretora executiva do Greenpeace Brasil, Carolina Pasquali, afirma que “Há um bom motivo pelo qual Bolsonaro se sentiu confortável em assinar este novo acordo. Ele estende o prazo para acabar com a destruição da floresta em dez anos, não é obrigatório e, quando se trata de limpar as cadeias de abastecimento, parece ter como alvo apenas o desmatamento ilegal. Mas a Amazônia já está à beira do colapso e não pode sobreviver a mais uma década de destruição, legal ou não. Os povos indígenas estão clamando pela proteção de 80% da Amazônia até 2025, e eles têm razão: é o que é preciso. O clima e o mundo natural não têm condições de pagar por esse acordo.”

Após três anos sem planos para reduzir efetivamente o desmatamento, o governo promete agora cortar 15% do desmatamento em 2022, ano que termina o mandato. Se tivermos em 2021 taxas iguais às de destruição dos últimos dois anos, esse número estaria por volta de 9.000 Km2, um aumento de 22% em relação ao ano de 2018, véspera do início do atual mandato. O governo antecipou também a meta de zerar o desmatamento ilegal até 2028, mas a conta não fecha, até lá o governo estaria admitindo quase 42.200 km2 de desmatamento ilegal, uma área maior que a Holanda ou Suíça, por exemplo.

Enquanto o governo brasileiro se aproveita da visibilidade da COP 26 para lançar diversos programas, anunciar novas metas de redução do desmatamento ilegal, cortes de emissões e um plano para acelerar a economia verde, por trás das cenas – como mostrou a reportagem de investigação jornalística do Unearthed, do Greenpeace no Reino Unido, a intenção é outra. 

O Brasil, ao lado de outros países, tentou interferir nas recomendações do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) para excluir as menções à agropecuária como vilão do clima e a importância da adoção de uma dieta baseada em vegetais. Vale lembrar que o desmatamento e a agropecuária representam 72% do total das emissões dos gases do efeito estufa do Brasil. As emissões no país aumentaram 9,5% em 2020, impulsionadas pela destruição da Amazônia — resultado de escolhas políticas deliberadas do governo Bolsonaro. 

A falta de ação para reduzir a demanda por carnes e laticínios industriais — uma indústria que está causando a destruição do ecossistema por meio da produção de gado e do uso de soja para ração animal -, nos mostra que há poucas chances do governo cumprir esse acordo e instigar políticas que colocariam o Brasil de volta ao caminho certo para diminuir o desmatamento. Enquanto não adotamos dietas baseadas em vegetais e reduzimos a quantidade de carne industrial e laticínios que consumimos, os direitos dos povos indígenas continuarão a ser ameaçados e a natureza continuará a ser destruída, em vez de ter a oportunidade de se restaurar e se recuperar.