Casos crescem de forma mais explosiva nas regiões com poucos imunizados, mas lugares onde a imunização ronda os 70% também estão passando apuros e retomando medidas que já haviam sido abandonadas
Pablo Lind e Elena Sevillano, El País Brasil, 9 de novembro de 2021
No segundo outono do coronavírus, a Europa está sofrendo uma nova investida da covid-19, deixando claro que a pandemia não acabou. Alguns países do Leste, com baixas taxas de vacinação, enfrentam agora a pior onda desde o começo da crise sanitária mundial, tanto em número de casos como em saturação hospitalar. Mas mesmo outros com cerca de 70% de inoculados estão começando a ter problemas: Reino Unido, Alemanha, Países Baixos e Dinamarca passam apuros e estão restabelecendo restrições ou planejando fazê-lo. A Espanha olha para o resto do continente em uma situação privilegiada: com a segunda menor incidência (58,7 casos por 100.000 habitantes), atrás apenas de Malta, e uma das mais altas coberturas vacinais (80%). Os especialistas descartam que os hospitais sofram a saturação das ondas anteriores, mas a tendência de alta nos casos no país começa a esboçar uma sexta onda, por enquanto muito tênue, cujo alcance é difícil de prognosticar.
Esta nova onda europeia não era inesperada. Enric Álvarez, do grupo de estudos de Biologia Computacional e Sistemas Complexos da Universidade Politécnica da Catalunha, explica que os crescimentos mais explosivos estão acontecendo em países com poucos vacinados: os casos extremos são Romênia (30% de cobertura vacinal, segundo as últimas cifras do site Our World in Data, embora as autoridades falem em 45%) e Bulgária (22,7%), onde as UTIs não dão conta e os cidadãos recusam a vacina por causa da falta de confiança nas autoridades e da desinformação que inunda as redes sociais e os meios de comunicação.
“Em outros países com taxas de vacinação mais elevadas, a Rt [taxa de reprodução] está em torno de 1,1 a 1,3, algo que não era impensável pelo que tínhamos visto em alguns Estados dos EUA. O Reino Unido, por exemplo, acumula um crescimento que nunca superou 0,5% semanal, apesar de estar sem nenhuma medida desde julho”, diz Álvarez, recordando também que, embora a vacina sirva para frear os contágios, há muitos outros fatores que influem no crescimento dos casos.
A Espanha não tem referências claras, já que quase nenhum outro país alcança taxas de vacinação tão amplas nem uma resposta tão favorável à terceira dose que já está sendo aplicada em maiores de 70 anos. A Dinamarca, que até alguns meses atrás trilhava uma trajetória muito similar de vacinação e diagnósticos, está sofrendo agora um crescimento de casos que leva as autoridades a temerem uma saturação hospitalar iminente. Mas existem diferenças entre os dois países: o escandinavo realiza muitos mais exames que o ibérico, o que provavelmente o leva a detectar mais casos; está cinco pontos abaixo em vacinação e suprimiu todas as restrições em 10 de setembro. Na Espanha, por outro lado, permanece a obrigatoriedade da máscara em ambientes internos, algo que os especialistas consultados recomendam manter durante o inverno boreal.
Segundo Miguel Ángel Martínez-González, catedrático de Medicina Preventiva e Saúde Pública na Universidade de Navarra, o Centro Europeu de Controle de Doenças (ECDC, na sigla em inglês) prevê que os casos continuem subindo na Europa, impulsionados entre outros fatores pelas baixas temperaturas que manterão as pessoas por mais tempo em ambientes fechados sem ventilação. “Não será o que vimos em outras ondas, porque as vacinas evitam que muita gente adoeça gravemente e morra. Mas temos que deixar claro que não são 100% efetivas. Nenhuma é. As pessoas tendem a achar que é um colete à prova de balas que vai protegê-las totalmente, então relaxam e os contágios aumentam. É preciso continuar mantendo a distância, ventilação e máscaras.”
O epidemiologista alemão Hajo Zeeb, do Instituto Leibniz, atribui a situação na Europa Central e Oriental à combinação de três fatores: “Um processo de vacinação lento, a chegada do frio e um maior relaxamento da vida privada”. “Na Alemanha imaginávamos que algo assim aconteceria, especialmente entre os não vacinados, que ainda são muitos”, acrescenta. O movimento antivacinas tem certa difusão no centro da Europa. Na Áustria, por exemplo, um novo partido político de autodenominados “céticos”, chamado MFG, conseguiu 6,2% dos votos e entrou em um Parlamento regional no começo deste ano.
O Governo alemão deixou de oferecer exames de antígenos gratuitos aos cidadãos em outubro, na esperança de que, tendo seus bolsos afetados, muitos optariam por aceitar a vacina para poder entrar em bares e restaurantes. A Alemanha exige certificado de vacinação, de cura ou exame negativo na maioria dos estabelecimentos fechados. A iniciativa não funcionou, pois as taxas de vacinação quase não se alteraram. Apenas 67,1% da população tem as duas doses. Vários Estados, assim como o presidente da Associação Alemã de Medicina, Klaus Reinhardt, pediram a retomada dos exames gratuitos para poder detectar mais casos e controlar as cadeias de transmissão. Nesta segunda-feira, a incidência bateu um recorde ao superar os 200 casos por 100.000 habitantes em uma semana (rondaria os 400 com os parâmetros usados na Espanha, o intervalo de 14 dias). Não se via um número tão alto de infectados desde dezembro passado, quando bares, restaurantes e comércios não essenciais estavam fechados.
As autoridades alemãs qualificaram a situação de “epidemia de não vacinados”, porque 90% dos pacientes de coronavírus nas UTIs não foram imunizados. A sobrecarga nos hospitais começa a notar-se: em vários Estados, restam menos de 10% de leitos livres nas UTIs. A Alemanha quer oferecer a dose de lembrança a toda a população. “A vacina de reforço após seis meses deveria ser a regra, e não a exceção”, disse o ministro da Saúde, Jens Spahn, na sexta-feira. Por enquanto, alguns Estados impuseram em seus territórios a chamada regra 2G, que impede a entrada em lugares públicos de quem não estiver vacinado ou recuperado da doença. Os exames já não seriam suficientes para ir a um restaurante ou ao cinema. As normas mudam também nas residências geriátricas, que registraram surtos recentes com vários mortos. Mesmo vacinados, os visitantes terão de se submeter a exame.
Volta às restrições
O aumento de casos também está propiciando a retomada de restrições que já pareciam desterradas. A Áustria, onde a incidência acumulada em 14 dias ronda os 1.000 casos por 100.000 habitantes, impõe desde segunda-feira novas medidas como a vacinação obrigatória (ou o certificado de ter passado pela doença) para poder entrar em bares e restaurantes. Também as barbearias e os salões de beleza exigem prova vacinação ou cura, como qualquer evento que reúna mais de 25 pessoas. A imprensa local informa que neste fim de semana os centros de vacinação registraram filas que não se viam há meses. As restrições serão mantidas pelo menos até o Natal, alertou o vice-chanceler Werner Kogler, que não descartou que a adoção de outras medidas se a situação não melhorar.
Em Haia (Países Baixos), 25.000 pessoas se manifestaram neste domingo contra a volta das máscaras e a distância de segurança de 1,5 metro. Embora o Executivo esteja sendo muito precavido na hora de readotar medidas restritivas para evitar um mal-estar social, o passe covid-19 é necessário na hotelaria, museus, piscinas e academias. Também se recomenda trabalhar de casa pelo menos metade da jornada semanal e não apertar mãos ao cumprimentar. O Instituto para a Saúde e o Meio Ambiente calcula que pode haver um pico de internações na UTI em meados de dezembro, dada a rápida ascensão das infecções.
As autoridades britânicas relutam por enquanto em reimpor restrições e querem começar a acreditar que a recente onda de contágios chegou ao seu pico e começou a se estabilizar. Mas o Governo de Boris Johnson ainda não descartou ativar seu plano B, com alguns tipos de limitações sociais. O nível de transmissão entre escolares parece ter chegado ao teto, mas o número de hospitalizações começa a impor uma considerável pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês). “Ainda temos uma situação bastante manejável, mas não deixamos de receber casos. E o problema é que tivemos que voltar a isolar andares não dedicados à covid-19, porque se detectaram também contagiados ali”, diz Borja Tejero, um espanhol especializado em Medicina Interna de Pacientes de Agudos, que trabalha há anos em um hospital londrino. Sua descrição concorda com a declaração deste domingo da epidemiologista Susan Hopkins, diretora da Saúde Pública britânica, à BBC: “Os hospitalizados são pessoas maiores de 70 anos ou aqueles com doenças pré-existentes. Os efeitos da vacina vão se enfraquecendo, sobretudo nesses grupos de pacientes”, disse Hopkins.
As autoridades polonesas decidiram estimular de forma pouco sutil os seus cidadãos a se vacinarem. Em 1º de novembro, aproveitando as visitas aos túmulos por Finados, foram instaladas unidades volantes na frente de alguns cemitérios, oferecendo vacinas de dose única ou a segunda dose das outras. A Polônia recomenda há alguns dias a dose de reforço para toda a população. As máscaras em ambientes internos continuam obrigatórias, mas seu uso já foi bastante relaxado. Há alguns dias o ministro da Saúde afirmou que a polícia ampliaria os controles.
A Hungria, um país de 9,7 milhões de habitantes, registrou neste fim de semana mais de 200 mortes por covid-19. Desde 1º de novembro as máscaras voltaram a ser obrigatórias no transporte público por causa do crescimento das infecções, e os hospitais restringem novamente as visitas. O Governo anunciou na semana passada que as empresas poderão exigir a vacinação aos seus trabalhadores. “Não é suficiente!”, exclama o sanitarista Zsombor Kunetz em suas redes sociais, recordando que usar máscara nas lojas e eventos culturais e esportivos é apenas “opcional” na Hungria. Vários especialistas criticaram o caráter brando das medidas governamentais.
Perante esta onda de covid-19 na Europa, Alberto Infante, professor de Saúde Internacional na Escola Nacional de Saúde da Espanha, recomenda ao seu país que ponha as barbas de molho. “É verdade que no Leste Europeu os percentuais de vacinação são menores que na Espanha, mas não tanto na Alemanha ou alguns países nórdicos. Portanto, continua sendo necessário vacinar os quatro milhões de maiores de 12 anos que ainda não o foram, e não baixar a guarda com as medidas não farmacológicas para evitar surtos. E controlá-los rapidamente quando aparecem”. O outono-inverno induz a reuniões em espaços fechados, e convém insistir no uso da máscara.
Hans Kluge, diretor da OMS: “Estou preocupado com a pandemia na Europa. Até 1º de fevereiro, mais meio milhão de pessoas podem morrer”
Especialista alerta para a “infodemia” de notícias falsas sobre as vacinas e ressalta que “em países onde os políticos escutam os cientistas, como na Espanha, a situação é melhor”
A Europa volta a ser o foco da pandemia de covid-19 e a Organização Mundial da Saúde (OMS) não esconde sua preocupação. As restrições sociais foram flexibilizadas em alguns países e o ritmo de vacinação ainda precisa melhorar muito, admite o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge (Roeselare, Bélgica, 52 anos).
Em visita a Barcelona nesta terça-feira para participar do Congresso Mundial de Hospitais, organizado pela associação patronal catalã La Unió, o médico belga cita como exemplo a Espanha e sua alta cobertura vacinal (em torno de 80%), mas admite que não se pode baixar a guarda. Nem na Espanha. A pandemia não terminou.
Pergunta. Em apenas quatro semanas, os casos de covid-19 na Europa cresceram 55%. Por que isso está acontecendo?
Resposta. Há dois motivos principais. O primeiro é que na maioria dos países da Europa a vacinação vem se estabilizando em vez de crescer. E, em segundo lugar, há vários países que estão relaxando as medidas de saúde pública e sociais em um momento em que os casos estão aumentando. Sobre o primeiro, a questão já não é o acesso, e sim o ceticismo em relação às vacinas. É por isso que vou criar um grupo de trabalho europeu sobre as pessoas que não querem se vacinar, e temos de ser mais proativos para enfrentar as fake news. Sobre as medidas de saúde pública, é preciso explicar melhor às pessoas que essas medidas não são um ataque à liberdade de ninguém. As medidas preventivas que os governos estão aplicando são precisamente para evitar o confinamento estrito.
P. O senhor está preocupado com a situação da pandemia na Europa?
R. Sim estou preocupado, sem dúvida. Estamos trabalhando com o Instituto de Avaliações de Saúde [Seattle, EUA], e foi feita uma projeção: até 1º de fevereiro, mais meio milhão de pessoas podem morrer na Europa [a região europeia da OMS abrange 53 países, incluindo a Rússia e outras ex-repúblicas soviéticas]. Mas sabemos o que é preciso fazer: vacinação, máscaras e ventilação. E esperamos que em breve tenhamos tratamentos.
P. A cobertura vacinal na Romênia é de 30%; na Bulgária, de 22%. Na Espanha, por outro lado, é de quase 80%. Há duas Europas?
R. Há 53. Criei uma unidade de estudos comportamentais e fizemos um estudo para entender qual é a percepção das pessoas que não querem ser vacinadas, e em cada país era diferente. Muitas políticas se baseiam em hipóteses, mas precisamos de dados para, a partir deles, traçar uma estratégia de acordo com cada comunidade, não uma estratégia nacional, e sim por comunidade.
P. As pessoas já não confiam em seus políticos ou nas autoridades sanitárias?
R. Em muitos países esse é um problema, sem dúvida. Digamos que em países onde os políticos escutam os cientistas, como na Espanha, a situação é melhor. Mas há vários países onde os políticos adotam medidas populares ou sob pressão da oposição. Neste momento da história, necessitamos da união de todos os partidos políticos, porque só existe uma forma de sair da pandemia: os políticos com os cientistas e com as pessoas, para que avancem na mesma direção.
P. Qual é o poder dos grupos antivacinas na Europa?
R. Os antivacinas são um grande desafio, mas em muitos países [o ceticismo em relação à vacinação] é por informações errôneas. Temos a pandemia e, depois, uma infodemia. Às vezes, até mesmo pessoas com boa formação acreditam nisso. Não se deve dedicar muito tempo aos linhas-duras, porque não vamos fazê-los mudar de opinião, mas esses talvez sejam 1% ou 2% da população. É preciso se concentrar nos demais para lhes transmitir informações adequadas de uma forma que eles entendam. As vacinas salvam vidas.
P. Como resolver esta nova onda na Europa?
R. Vamos lançar, em nível europeu, uma campanha de comunicação com influenciadores, país por país, com três mensagens. Primeira: as vacinas salvam vidas. Segunda: por favor, usem máscara, principalmente em ambientes fechados, onde não for possível garantir o distanciamento social e não houver ventilação. A terceira mensagem é a ventilação, porque não se fala suficientemente disso. E assim que a Agência Europeia de Medicamentos aprovar um tratamento, enfatizaremos isso. Porque mesmo com a vacinação estamos um pouco atrasados, porque ela não começou em muitos países e, se houvesse um medicamento que reduzisse a mortalidade em 50%, seria um grande avanço.
P. Qual é a influência das variantes? A delta plus ainda não é considerada preocupante.
R. Ainda não. Mas quanto mais transmissão, mais mutações. Por isso, precisamos que todos se vacinem e precisamos de tratamentos. Porque se tivermos uma delta superplus contra a qual a vacina seja menos eficaz, precisaremos, principalmente, de tratamentos. Mas não há motivo para pânico. A OMS vê 100 mutações todos os dias e a maioria não é motivo de preocupação, as vacinas funcionam.
P. Em países com baixas taxas de imunização, a vacinação deveria ser obrigatória?
R. Vários países estão considerando isso. Há várias coisas que devem ser levadas em conta e que cabe a cada país decidir. Primeiro, o que ele decidir precisa estar de acordo com o marco jurídico e cultural desse país. Sabemos que a vacinação obrigatória, em muitos casos, pode ter o efeito contrário: aumentar o ceticismo sobre a vacina. Se um país optar pela vacinação obrigatória, deve fazer isso como último recurso, depois de ter tentado todo o resto. Primeiro é preciso fazer um estudo do comportamento das pessoas, porque em muitos países, quando analisamos, vimos que o problema era o fato de que era muito complicado se vacinar. Antes de optar pela vacinação obrigatória, é preciso se assegurar de que todos os obstáculos para o acesso à vacina tenham sido removidos.
P. É pertinente promover a terceira dose em países ricos quando existem países pobres sem acesso à vacina?
R. Aqui há um erro de compreensão: a terceira dose não é um luxo, é parte do padrão de vacinação porque a imunidade vai baixando. E se não fizermos isso pelos idosos agora, voltaremos a ter mortes nesse grupo. É preciso fazer de tudo, como na Espanha: dar a terceira dose e doar 50 milhões de doses para outros países. Se todos os países tivessem feito a mesma coisa, teria dado resultado. Mas há muitos Estados que têm vacinas excedentes e não fazem nada, elas estão prestes a vencer. Precisamos de compromisso e liderança política. É a única forma de sair da pandemia.
P. Algum dia será conhecida a origem da covid-19?
R. É muito difícil, mas os países deveriam compartilhar os dados de forma transparente. No final de novembro haverá uma sessão especial para discutir um novo tratado mundial sobre pandemias, e uma das questões-chave a ser decidias pelos Estados membros é quanto poder devem ceder à OMS. Atualmente, não tenho um mandato para ir de forma independente a um país e analisar todos os dados e todos os equipamentos. A OMS não é uma inspeção internacional, estamos aqui simplesmente para ajudar os países. São os Estados membros que nos governam e que devem nos dar mais capacidades.
P. A OMS foi muito criticada por sua investigação sobre a origem da covid-19 e pela lentidão nos primeiros dias. Quais foram os grandes erros e o foi aprendido?
R. Antes da detecção do primeiro caso na Europa, eu já tinha a equipe em campo. Na OMS Europa poderíamos ter feito melhor as coisas, sem dúvida, e os países também. Mas é preciso dizer às pessoas que estamos em uma situação sem precedentes e é normal que não tenhamos todas as respostas. Vamos aprendendo todos os dias. Acho que isto é uma lição importante para a OMS, porque precisamos seguir o princípio da precaução: se não tivermos certeza e pudermos aplicar uma medida que não prejudique, como a máscara, é melhor fazer isso antes de ter as evidências. A OMS aprendeu três coisas. Em primeiro lugar, o papel dos escritórios regionais tem de ser maior, eles deveriam estar capacitados para fazer um chamado e alertar antes de declarar a pandemia. Outra lição: o marco jurídico que orienta o comportamento da OMS e dos países durante a pandemia se chama Regulamento Sanitário Internacional, mas não estão previstos nele mecanismos para ver o que acontece caso alguns Estados membros não o cumpram, e seria necessário abordar isso. Em terceiro lugar, houve um painel independente que analisou o desempenho da OMS e disse claramente que faltava financiamento. Precisamos ter um financiamento mais flexível e sustentável.
P. O que a OMS espera quanto aos outros vírus respiratórios neste inverno boreal?
R. Haverá muito mais, porque no ano passado houve muitos menos devido às medidas públicas, mas isso também significa que neste ano haverá menos imunidade contra esses vírus. As pessoas que puderem deveriam tomar as duas injeções [contra a covid-19 e a gripe], e é preciso proteger os profissionais de saúde. Estou muito preocupado. Dois de cada 10 profissionais sanitários estão esgotados e temos um problema. Concordamos com a ministra [espanhola da Saúde, Carolina] Darias em trabalhar conjuntamente com a Espanha na questão da saúde mental do pessoal sanitário.
P. E quanto a outras doenças, como a tuberculose e o HIV?
P. A Espanha ocupará a presidência da UE em 2023 e trabalharemos com Darias e sua equipe em um documento político importante para reduzir o estigma e a discriminação do HIV, porque esse é o principal obstáculo para sua eliminação em 2030. No ano quer vem, aplicaremos dois planos de ação na Europa: um para acabar com a tuberculose e outro para tratar HIV, hepatite e infecções de transmissão sexual a partir de uma boa atenção primária à saúde. Esse é o principal desafio hoje. Com a covid-19 teremos muitas dificuldades, mas não podemos nos esquecer das outras doenças, incluindo o câncer.
P. Quando acabará a pandemia de covid-19?
R. Não posso dizer quando terminará, mas sim como terminará: com uma distribuição igualitária de vacinas e tratamentos, escola seguras e as doses de reforço. Também é necessário continuar pressionando o vírus com medidas preventivas, como máscara, ventilação, controle da mobilidade transfronteiriça, e é preciso aumentar os testes, incluindo os testes genômicos para poder detectar logo as novas variantes. Mas sou otimista. Não é que vá acabar no ano que vem, mas teremos superado a fase aguda, desde que as pessoas na Europa se vacinem.