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Francisco Louçã: Macron pode mesmo perder?

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Será difícil e menos credível reconstituir a frente republicana que se ergueu em 2002 contra o pai Le Pen e em 2017 contra Marine Le Pen. Em consequência, qual será o voto pendular dos descontentes e abstencionistas só saberemos quando as urnas fecharem, e todos os desastres são possíveis.

Francisco Louçã, Expresso, 14 de abril de 2022

Os resultados da primeira volta das eleições francesas contrariaram mais uma vez as sondagens, mesmo que não de forma tão assustadora como outras recentes. A abstenção foi a segunda maior desde 1958, o que pode ter beneficiado Macron e prejudicado Le Pen, mas dá a esta uma paradoxal vantagem na captação de votos para a segunda volta. Mélenchon, que desempenhou uma campanha brilhante com a sua proposta republicana e socialista, ficou a uma distância de Le Pen que demonstra que, a ter havido maior concentração de votos, poderia tê-la ultrapassado e desencadeado um terramoto na direita. Houve outras campanhas dignas à esquerda, mas a sua expressão provou que se enganaram nos objetivos. E ficamos agora com Macron contra Le Pen, com o desaparecimento do PS e forças de esquerda ou dos verdes, bem como da direita tradicional e até do enfant terrible da extrema-direita, Zemmour.

Pareceria o único cenário confortável para Macron, mas pode ser um pesadelo em que nada lhe está garantido. Escrevia o economista Thomas Piketty no “Le Monde”, nas vésperas da eleição, que ou Macron fazia um “gesto social” ou estava condenado. Incensado por governos europeus, como o nosso, que procuram o conforto das suas promessas, Macron é visto no seu país como incapaz, e aliás desinteressado, de cuidar da vida das pessoas e de lhes responder. Queria ser um Presidente “jupiteriano”, dizia de si próprio na campanha anterior, comparando-se ao deus dos deuses romanos no Olimpo do Eliseu. Agora, na aflição da segunda volta, promete um “método novo de governo”, o que diz tudo sobre a necessidade e nada sobre o resultado, não faz ideia do que quer propor. Assim, será difícil e menos credível reconstituir a frente republicana que se ergueu em 2002 contra o pai Le Pen e em 2017 contra Marine Le Pen. Em consequência, qual será o voto pendular dos descontentes e abstencionistas só saberemos quando as urnas fecharem, e todos os desastres são possíveis.

 

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