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Garimpeiros ligados ao PCC atacam aldeia Yanomami

11 de maio de 2021

Presença da facção criminosa já é sentida na exploração de ouro em Roraima e eleva o conflito nas terras indígenas.

Emily Costa, Elaíze Farias e Kátia Brasil,  Amazônia Real, 10 de maio de 2021

Garimpeiros integrantes de uma facção criminosa atacaram com armas a comunidade Palimiú, na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima, no fim da manhã desta segunda-feira (10). Os indígenas revidaram com flechas e tiros de espingarda. Eles relataram que o incidente foi distinto de tudo o que já haviam presenciado antes nessa zona de conflitos. Segundo o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Y’ekuana (Considi-Y), Junior Hekurari, até mesmo a vestimenta dos invasores era diferente.

“Eles estavam de preto. A comunidade achou esquisito a roupa deles. Disseram que algumas roupas estavam escrito ‘polícia’. Muito estranho isso”, relatou o presidente do Condisi, que já na tarde desta segunda-feira foi à aldeia, logo após ser comunicado pelos indígenas de Palimiú sobre o ataque.

À Amazônia Real, Junior Hekurari contou que três garimpeiros morreram, cinco foram baleados e um Yanomami ficou ferido. “Os indígenas da comunidade me confirmaram que morreram três e esses corpos os próprios garimpeiros levaram para acampamento deles”, relatou. Uma outra liderança, Dário Yanomami, afirmou que não houve mortes (Veja abaixo).

A reportagem apurou que os executores do ataque são ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa de São Paulo que domina o tráfico de drogas em Roraima e já está operando em garimpos ilegais de ouro dentro do território indígena.

De acordo com Júnior Hekurari, a comunidade relatou que os invasores chegaram por volta das 11 horas em diferentes embarcações numa barreira sanitária instalada pelos Yanomami na comunidade, que fica às margens do rio Uraricoera, em Alto Alegre. A barreira foi instalada cerca de seis meses atrás na região para impedir a passagem de garimpeiros.

“Primeiro, um grupo de garimpeiros chegou. Eles [os indígenas] barraram para que não passassem. Aí, depois de dez minutos, chegou outro grupo de garimpeiros. Atiraram de todos os lados e invadiram as comunidades. Os Yanomami também responderam com flecha contra os garimpeiros, com espingarda”, disse Junior. “Eles [os indígenas] estão muito assustados. Nunca viram [algo] como aconteceu hoje. Estão solicitando força tarefa, da Polícia Federal, do Exército, que façam segurança.”

O risco de mais ataques

 Em ofício divulgado na tarde de segunda-feira, a Fundação Nacional do Índio (Funai) relatou que a situação na comunidade Palimiú é grave e alertou para o perigo iminente de novos conflitos.

A Frente de Proteção Yanomami e Ye’kuana, contudo, contesta uma diligência sem proteção. “Não será possível que a Funai diligencie até a comunidade para colher maiores informações sem que haja escolta das forças de segurança pública”, apontou o documento, que é assinado pela chefe da Frente, Elayne Maciel. A Frente de Proteção Yanomami e Ye´kuana faz parte da estrutura da Funai e é responsável pelo monitoramento de indígenas isolados no território indígena.

Na nota, ela não trouxe informações sobre mortes durante o ataque, mas confirmou que o fato aconteceu por volta de 11 horas, quando “sete barcos de garimpeiros portanto armas de fogo atiraram contra indígenas que revidaram, resultando em cinco feridos, sendo um indígena e quatro garimpeiros”.

Em outro ofício enviado às autoridades federais, a Hutukara Associação Yanomami (HAY) solicitou urgência para impedir “a continuidade da espiral de violência no local e garantir a segurança para a comunidade Yanomami de Palimiú”. No documento, a organização denunciou que os homens das embarcações teriam ido embora, mas afirmaram que retornariam para se vingar. A HAY também não confirmou as mortes relatadas pelo Condisi Yanomami Ye´kuana.

Em áudio divulgado em grupos do Whatsapp, Dário Yanomami, vice-presidente da HAY, negou que tenha ocorrido mortes. “Acabei de falar na radiofonia lá no Palimiú sobre o boato que está saindo e as lideranças me informaram que os Yanomami estão tranquilos lá. Estão na proteção deles. Aquele tiroteio freou um pouco, esfriou um pouco e os Yanomami estão continuando na defesa lá. Aquele boato que saiu de oito, cinco pessoas baleadas [na comunidade] não procede essa informação”, disse.

Dário Yanomami ressaltou que a região do Uraricoera, onde houve o conflito, é intensamente afetada pelo garimpo ilegal. “Em cima da comunidade Palimiú tem garimpo e para baixo os garimpos são próximos. O rio está ocupado com maquinários, balsas dos garimpeiros. Eles usam esse rio todo dia, subindo e descendo, subindo e descendo”, disse ele à Amazônia Real.