Se confirmada pelo serviço meteorológico italiano, temperatura na Sicília será a mais alta já registrada no continente. Onda de calor vem provocando graves incêndios na Grécia, na Turquia, na Albânia e na Argélia.
Deutsche Welle Brasil, 12 de agosto de 2021
O calor na Itália pode ter atingido um pico histórico nesta quarta-feira (11/08). Os termômetros na Sicília chegaram a 48,8°C, perto de Siracusa, informaram autoridades locais.
Se confirmada pelo serviço meteorológico italiano, essa será a maior temperatura já registrada em toda a Europa. O recorde anterior havia sido de 48,5°C, também na Sicília, em 1999. Antes disso, a mais alta temperatura havia sido 48°C, na Grécia, em 1977.
A onda de calor que assola parte da Europa e o norte da África provoca, há semanas, extensos e perigosos incêndios florestais, que já deixaram vários mortos e devastaram áreas inteiras, obrigando milhares de pessoas a abandonarem suas casas.
Quase 100 mil hectares devastados na Grécia
Nesta quarta-feira, o Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla em inglês) informou que quase 100 mil hectares de florestas e terras agrícolas foram queimados na Grécia nas últimas duas semanas.
É a pior onda de incêndios florestais desde 2007. As condições extremas de calor e tempo seco neste verão ao longo do Mediterrâneo têm sido associadas por especialistas às mudanças climáticas.
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mistotakis, disse que os 586 incêndios que atingiram várias regiões do país em apenas alguns dias foram "um desastre natural de magnitude excepcional".
Na Grécia, a segunda maior ilha do país, Evia, foi a mais atingida, com mais da metade de sua área total queimada. Nesta quarta-feira, a situação começou a melhorar aos poucos.
"Acho que podemos dizer que os incêndios estão lentamente sendo controlados", disse o prefeito da cidade de Istiea, Giannis Kontzias, à emissora de televisão estatal ERT. "Ontem vimos a luz do sol pela primeira vez em dias", disse ele, referindo-se a enormes nuvens de fumaça que escureceram o céu por dias.
Os incêndios na região começaram há nove dias. Quase 900 bombeiros trabalham para extinguir as chamas, com reforços de equipes da Alemanha, França, Reino Unido e República Tcheca.
No início de agosto, a Grécia foi atingida pela pior onda de calor em três décadas. Durante uma semana, a temperatura atingiu os 45 ºC em diversas regiões do país, e 43 ºC na capital Atenas.
Desde a década de 1980 "quase duplicou" o número de dias em que a condição meteorológica favorece os incêndios florestais.
No país, o fogo também deve ter consequência na economia, já que extensas áreas agrícolas foram destruídas. Especialistas acreditam que a terra, antes fértil e cultivável, possa levar anos para se regenerar.
Na vizinha Albânia, duas pessoas morreram devido ao fogo. Há três semanas, incêndios destroem milhares de hectares de florestas, oliveiras, árvores de frutos e pastos.
Após mais de duas semanas, foi possível extinguir dois incêndios na península de Karaburun, na costa Jônica, que ameaçavam expandir-se para o parque nacional de Llogara, um dos mais importantes do país. O controle das chamas foi possível graças ao apoio de três helicópteros enviados pela União Europeia (UE).
A situação mais crítica agora está no norte do país, próximo da fronteira com o Kosovo, onde há três focos ativos, que põem em risco várias zonas habitadas.
Dois extremos na Turquia
A Turquia enfrenta problemas com dois climas extremos, em diferentes regiões do país. No sudoeste, na província de Muga, bombeiros tentam apagar incêndios florestais que ardem desde 28 de julho. Oito pessoas e incontáveis animais morreram.
No norte do país, o problema são as inundações e deslizamentos de terra após fortes chuvas. Nas províncias de Bartin, Kastamonu, Sinop e Samsun, no Mar Negro, as enchentes arrastaram carros. Várias pessoas tiveram que ser resgatadas de helicóptero dos telhados das casas.
Pelo menos 28 soldados mortos na Argélia
O norte da África também sofre com a onda de Calor. Na Argélia, o corpo de bombeiros e o exército lutaram contra inúmeros incêndios florestais, principalmente em Kabylia, uma região montanhosa densamente arborizada a leste da capital Argel. Em apenas um dia, 50 novos incêndios eclodiram, informou a agência de notícias estatal APS.
O número de mortos subiu para 69, entre eles 28 soldados que estavam no local para apoiar os bombeiros. Outros 12 militares seguem internados em estado grave.
O Marrocos enviou reforços para ajudar a conter as chamas, incluindo dois aviões. Outro país bastante afetado pelo fogo na África é a Tunísia.
Espanha em alerta
Praticamente toda a Espanha está desde esta quarta-feira sob os efeitos de uma onda de calor, cujo pico acontecerá entre sexta-feira e domingo, quando as temperaturas podem ultrapassar 44 ºC em algumas regiões.
Além disso, há receios de um aumento dos níveis de radiação ultravioleta e do risco de incêndios. Por esta razão, o presidente espanhol, Pedro Sánchez, pediu "máxima prudência e plena cooperação" à população.
As comunidades autônomas espanholas também estão tomando medidas. Na Catalunha, acampamentos e atividades esportivas em montanhas foram proibidos até segunda-feira nas áreas com maior risco de incêndio. Já em Extremadura e Castilla-La Mancha, os governos regionais pediram que sejam evitados o uso de máquinas agrícolas ou outros equipamentos que possam provocar incêndios.
De acordo com a Agência Estatal de Meteorologia da Espanha (Aemet), o país está enfrentando a "mais intensa, extensa e duradoura" onda de calor deste verão, um episódio de temperaturas sufocantes que durará pelo menos até terça-feira e será sentido em toda a península e nas Ilhas Baleares, no Mediterrâneo, com exceção da Galícia e o norte da Cantábria.
Entre sexta-feira e domingo, os três dias mais quentes, as temperaturas máximas e mínimas devem ficar de 5 a 10 graus Celsius acima do normal para esta época do ano na maior parte da Espanha.
Mais de 1.000 prédios destruídos na Califórnia
Nos Estados Unidos, um grande incêndio na Califórnia já destruiu ao menos 1.045 prédios, mais da metade deles, casas no norte de Sierra Nevada.
O fogo começou em 14 de julho e cobriu mais de 2 mil quilômetros quadrados. Nesta quarta-feira, apenas 30% das chamas estavam contidas, de acordo com o Departamento de Silvicultura e Proteção contra Incêndios da Califórnia.
Ondas de calor e secas históricas, associadas às mudanças climáticas, tornaram os incêndios florestais mais difíceis de combater na região oeste dos Estados Unidos, que vem se tornando cada vez mais quente e mais seca nos últimos 30 anos.
As autoridades do estado de Montana, no oeste do país, já ordenaram evacuações, depois que o vento espalhou um incêndio em direção a várias comunidades remotas nesta quarta-feira.