Robert Boyer, Alternatives Économiques, 9 de agosto de 2021. A tradução é de André Langer.
Na década de 1990, a arte de contar uma bela história tornou-se crucial para os empreendedores da nova economia. De fato, importava apresentar aos financistas uma visão sintética, libertando-se das grandes e múltiplas incertezas que atrapalhavam o cálculo econômico herdado do crescimento do pós-guerra. Essas ficções encontraram seu teste de verdade com o colapso da bolha pontocom.
No entanto, o story telling foi estendido ao campo político e uma geração de spin doctors colocou-se a serviço dos governos. Na verdade, como eles, por sua vez, enfrentaram situações sem precedentes, foi tentador adotar o adágio de Jean Cocteau: “Uma vez que estes mistérios nos ultrapassam, finjamos ser os seus organizadores”.
A comunicação tornou-se assim o Alfa e o Ômega da política com notável sucesso, como evidenciado pelo voto a favor do Brexit ou ainda pela chegada ao poder de Donald Trump. Terá o mesmo acontecido com as narrativas provocadas pelo surto da Covid-19? Nada é menos certo.
Mimetismo dos discursos e especificidade das trajetórias nacionais
O que decidir e o que anunciar diante de um vírus desconhecido e invasivo? Em primeiro lugar, tentar copiar as estratégias que parecem ter sucesso, daí o surpreendente recurso aos confinamentos, concebíveis na China, mas altamente prejudiciais às liberdades públicas na maioria das democracias.
Em seguida e sobretudo, inventar slogans simples a partir dos quais cidadãos e atores econômicos possam se orientar e continuar a tomar suas decisões no dia a dia: “Guerra contra o vírus”, “testar, rastrear e isolar”, “custe o que custar”, “andar na crista da pandemia”, “vacinar-se”, “a volta dos dias felizes”.
Na verdade, as redes sociais dão a impressão de sociedades em uníssono, tanto a comunicação é instantânea, um fenômeno que distingue esta pandemia das anteriores. Por exemplo, o slogan “testar, rastrear, isolar” é implementado sem demora na China com um rigor que o controle de um partido-Estado todo-poderoso permite. Na França, esse é um projeto que esbarra na falta de preparo do sistema de saúde.
Da mesma forma, o slogan do distanciamento social esbarra na intuição: como a expressão da solidariedade coletiva diante do vírus deve traduzir-se na desconfiança em relação ao vínculo social essencial para o dia a dia?
Além disso, a prioridade dada ao combate à pandemia, aspecto obrigatório do discurso dos dirigentes políticos, pode na realidade ser acompanhada pela preferência pela manutenção das liberdades públicas e pelo desejo de não destruir a economia com confinamentos demasiado rígidos.
Finalmente, invocar um estado de guerra contra o vírus deveria galvanizar as energias, mas, infelizmente, o vírus circula de indivíduo para indivíduo. Ele não assinou um armistício, de sorte que o fracasso foi ainda mais óbvio porque não havia meios de impedir sua propagação.
Da sedução do slogan à eficácia de uma política
Na realidade, para além da convergência das narrativas, existem diferenças notáveis, até mesmo oposições, entre concepções nacionais sobre os objetivos e meios da saúde pública. Ex post, a divergência entre países, tanto nas taxas de mortalidade da Covid-19 como nas perdas da atividade, é impressionante.
Assim, há poucas dúvidas de que a estratégia “testar, rastrear, isolar” é relevante, como mostram os países do Sudeste Asiático. No entanto, a implementação deve ser suficientemente precoce, ou seja, antes que a explosão no número de casos sobrecarregue as capacidades do sistema de vigilância sanitária. Ou ainda que a recorrência das pandemias tenha sido antecipada e a resposta das autoridades organizada em conformidade.
A mesma lacuna entre a projeção de um ideal e a possibilidade material de implantá-lo na sociedade encontra-se no que diz respeito à vacinação em massa lançada pela maioria dos governos. Por um lado, tudo depende do fornecimento de vacinas no mercado mundial e através da solidariedade internacional (Covax), mas a situação é dramaticamente desigual entre os países ricos e os demais.
Por outro lado, a resistência de parte da população pode retardar o processo de vacinação, visto que a relação de confiança com os especialistas e as autoridades diminuiu durante episódios anteriores da pandemia. Muitas vezes isso é consequência de promessas traídas por serem aproximadas ou desajeitadas (as máscaras, a volta dos dias felizes do verão de 2020...).
Finalmente, encontramos o trilema (economia, saúde, liberdades públicas). Sabendo que as variantes do vírus continuam a se renovar e espalhar de um continente para outro, uma saída duradoura da incerteza econômica pressupõe uma vitória global sobre a pandemia. Do contrário, as barreiras à mobilidade dos indivíduos comprometerão a recuperação de alguns setores e, portanto, o retorno à normalidade econômica. Ainda assim, um persistente protecionismo na saúde impede essa solução cooperativa. Em suma, slogans abstratos e otimistas esbarram na dura lógica do interesse nacional.
O vírus é resistente às profecias autorrealizáveis
À luz das esperanças expressas em janeiro de 2021 sobre a vitória próxima sobre a pandemia, não é intrigante que os países mais avançados na vacinação, como o Reino Unido e Israel, estejam experimentando um ressurgimento do número de infecções? Quanto tempo duram os tratamentos para combater as formas mais graves da doença?
As pesquisas em todas as disciplinas fizeram um progresso notável, mas a Covid-19 não entregou todas as suas características: ela continua a surpreender e a manter os políticos em suspense.
As discussões sobre a saída do “custe o que custar” muitas vezes esquecem que o exercício não é sobre encontrar um caminho ótimo para as finanças públicas, mas antes sobre a reconfiguração dos regimes socioeconômicos levando em consideração a segurança sanitária e ambiental e a redução das desigualdades que ameaçam a estabilidade política da maioria das sociedades.
Acabaram-se os dias dos slogans, e o tempo deveria ser de inovação política.
Robert Boyer é economista, diretor de pesquisa do CNRS (Centro Nacional para a Pesquisa Científica), diretor de estudos da EHESS (Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais) e pesquisador do Cepremap (Centro para a Pesquisa Econômica e suas Aplicações).