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Sobre pesquisas e salsichas: quem paga a banda escolhe a música

21 de agosto de 2025

João Paulo Oliveira

Pesquisas de opinião sempre tiveram um quê de fábrica de salsicha: a gente vê o resultado, mas não tem clareza de como foi produzido. A Genial Quaest divulgada em 20 de agosto é um bom exemplo. De repente, o instituto sextuplicou a amostra: em vez das usuais 2 mil entrevistas, foram 12.150. O detalhe é que os estados escolhidos foram SP, MG, RJ, PR, RS, GO, BA e PE.

Em Minas, Lula e Bolsonaro empataram no segundo turno (50,2% x 49,8%). Nos outros sete, Bolsonaro venceu em cinco. Somando os oito, o placar foi: 40 milhões (53,77%) x 34 milhões (46,23%). Não é preciso ser estatístico para perceber que, partindo dessa base, a desaprovação ao governo tende a aparecer inflada. É como medir a popularidade do Mengão entre torcedores do Vasco.

Os governadores desses estados não são anônimos na cena política. Estamos falando de Eduardo Leite (RS), Ratinho Jr (PR), Tarcísio (SP), Zema (MG) e Caiado (GO), justamente os nomes que o mercado e a imprensa econômica tentam empurrar goela abaixo como “presidenciáveis”. São eles que frequentam painéis de corretoras e jantares de bancos de investimento. Nada mais natural, que uma corretora de valores financie (especule com) pesquisas centradas em seus redutos.

A ironia é que, mesmo com essa seleção favorável ao campo conservador, os números mostram uma queda expressiva da diferença entre aprovação e desaprovação, de 17% para 8%. Mesmo com o baralho marcado anabolizado pela mídia, a tendência foi de melhora para o governo.

Daí a pergunta inevitável: quando uma pesquisa dessas aparece como “retrato nacional”, está medindo a opinião do país ou fabricando consenso para o mercado? Por que tantos jornalistas, assalariados como qualquer trabalhador, atuam como porta-vozes de um mundo financeiro do qual nunca farão parte?

No fim, vemos novamente o casamento entre conservadorismo político e mercado especulativo: um produz riqueza virtual, o outro legitima essa ficção, sempre às custas da classe trabalhadora. O jornalismo, muitas vezes, atua como transmissor desse discurso, reproduzindo interesses de elites que não incluem a maioria dos próprios trabalhadores jornalistas.

João Paulo Oliveira é militante da Insurgência no Rio de Janeiro