Filha de pequenos agricultores rurais, semianalfabetos, neta de indígenas e de vaqueiros, Ana Freire é a expressão da luta e da resistência do povo pernambucano. Ela também é analista judiciário, ex-policial civil, mestra em Direitos Humanos e, aos 33 anos de vida, tem aprendido que melhor palavra para a vida, não é superação, mas ressignificação. “Ressignificar é dar novo sentido”, explica.
Por volta dos 4 anos de idade, em contexto de violências, seus pais se separaram: “eu só entendia que precisaria sair do lugar que me amava, uma escola municipal. Chorei tanto, que os patrões dos meus pais, decidiram que eu ficaria com eles, que forneceriam meios para que eu continuasse estudando”, conta Ana.
Criada distante de seus parentes, ainda criança, olhava para desconhecidos, especialmente pessoas mais pobres, e pensava que poderiam ser alguém da família dela. E, com esse olhar, Ana Freire cresceu questionadora e cheia de empatia no coração.
“Fui uma menina que precisou fazer um esforço gigantesco para sonhar em chegar a lugares nos quais nunca havia ninguém que parecesse comigo. Nem com meus traços étnicos raciais, nem com minhas origens econômico-sociais. Então, compreendi muito cedo, que para milhares de crianças e jovens, o básico como, estudar e sonhar ainda equivale não somente a ultrapassar obstáculos, mas também ao enfrentamento constante de fortes descrenças e desestímulos”, desabafa.
Ela conta que somente ao 24 anos viu uma juíza negra e, no campo político, somente aos 32 encontrou, pela primeira vez, deputadas pretas. Em ambos os encontros se emocionou. “Foi como quem celebra sobreviventes de uma tragédia”, disse. “Eu sobrevivi! Meus irmãos, meu pai e minha mãe, também sobreviveram. E é importante destacar que esforço pessoal não teria sido suficiente, se não tivesse tido oportunidades”, completa Freire.
Ao longo de sua existência, Ana adquiriu consciência crítica sobre a injusta realidade na qual a maior parte da população este inserida. Nesse sentido, viver unicamente em função do próprio crescimento pessoal nunca foi o seu objetivo.
Assim, em um período de crises, de vírus, de morte, Ana Freire, filha do campo e da cidade, não se curva ao medo e entra para a política, impulsionada pelo desejo de ressignificar esse lugar, usando a coragem e valentia de seus ancestrais, seus estudos e vivências para transformar a cidade do Recife.
“Em defesa da esperança, entro na política com a certeza de que a minha história, não é somente a minha história, é a história de milhares de meninas e mulheres pretas, indígenas, latino americanas e caribenhas”, afirma Ana Freire, pré-candidata a vereadora pelo PSOL.